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quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Na estrada

De dentro do carro via a noite cair. Queria chegar logo na cidade mais próxima e abandonar o carro.

O som do que estava no porta-malas gargalhando e arranhando o metal estava abalando meus nervos.

- Eu já te matei, cadela! Você está morta! Fique quieta! - gritou sem tirar os olhos da estrada.

Uma risada aguda veio em resposta.

Pisou mais fundo no acelerador.

A sinalização indicava o próximo povoado. Achou que conseguiria.

Ouviu outra risada, mas essa foi diferente.

Mais perto. Do lado do seu pescoço.

Sentiu uma respiração com cheiro de coisas podres em seu pescoço.

Sabia que não devia virar a cabeça. Ela estaria do seu lado, o encarando. Não queria ver os olhos negros, a pele branca, os dentes tortos e pontudos.

Pisou ainda mais fundo, até sentir que perderia o controle do carro.

Ela gargalhou mais uma vez. E cravou seus dentes no pescoço dele de uma vez.




terça-feira, 2 de agosto de 2016

O que se move entre as nuvens


O que se move entre as nuvens

Em um dia comum, sua preocupação maior ao ver as nuvens seria com o guarda-chuva que tinha deixado em casa.

Mas aquelas nem de longe pareciam nuvens de chuva comuns.

Não era um homem religioso, mas nunca havia entendido tão bem o conceito de Juízo Final. Finalmente percebeu que, diante de certas forças do universo, não passava de um inseto consciente de sua insignificância.

Infelizmente, percebeu isso tarde demais. O que se desenhou nas nuvens acima de sua cabeça não podia ser chamado de rosto. Muito menos o som que chegou aos seus ouvidos podia ser um trovão.

Mas tinha certeza que aquilo que conseguira divisar, segundos antes que sua sanidade o abandonasse para sempre, era um gigantesco tentáculo cruzando uma das nuvens.










segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A Casa nos Fundos


A Casa dos Fundos


Nos fundos de um arranha-céu no Centro do Rio de Janeiro, uma casa abandonada continua de pé.

De dia ou de noite, nenhuma luz é acesa, nenhuma porta é aberta, nenhuma conversa acontece em seu interior.

Entrei nessa casa em uma noite de outubro de 1985. Fugia da polícia. Pulei um muro, forcei uma janela do térreo e fiquei escondido. A polícia não me achou.

Mas outra coisa me achou. Algo que se movia ali dentro. Algo que espreitava e esperava.

Desde então estou aqui.

Se você olhar pelas janelas, talvez possa me ver.

Hoje eu também me movo aqui dentro. Espero. E espreito.