quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A Casa dos 7 Mortos - Filme B (2 de 2)


... Continuando de onde parei...

Quando estão andando pela casa, o galã encontra uma porta que leva para um quarto secreto, repleto de itens de magia negra. Dave acha um livro chamado Livro Tibetano dos Mortos. E tem a brilhante ideia de usá-lo nas filmagens, para dar mais veracidade às filmagens.


Um aparte sobre o tal livro. Não convence... não dá pra acreditar que apenas algumas palavras recitadas por um dos atores trouxesse o horror pra acabar com eles. Talvez fosse mais crível se, além das palavras, algumas práticas fossem retiradas do livro e encenadas. Por mais que hoje em dia essa seja uma ideia utilizada à exaustão, talvez fosse uma modificação que contribuísse para o filme.  Sem contar com o próprio nome do livro...  "Livro Tibetano dos Mortos"... ah, por favor...  Por que não fizeram uma pesquisa um pouco mais aprofundada em literatura proibida e utilizaram algo mais impactante...  o Necronomicon, ou o Des Vermis Misteriis,  ou, já que o zumbi é chamado de "Ghoul", por que não usar o Cultes des Goules????

Continuando...

O zelador é meio que o red herring do filme (arenque vermelho, ou arenque defumado, é um termo utilizado para indicar uma pista falsa. O nome vem da estratégia usada por criminosos perseguidos por cães farejadores: esfregar arenque defumado no seu rastro para que o cheiro forte confunda os cachorros). Algumas situações levam a crer que o sr. Price é algum tipo de ente sobrenatural. O casalzinho Anna e Dave chegam a vê-lo entrando em um dos túmulos do cemitério.  

Churrasco de gato do inferno!

Lá pelas tantas, o gato de Gayle some. Ele só é encontrado no dia seguinte. Quer dizer, é mais ou menos encontrado. Alguém retalhou o bicho e só acham a parte da frente dele. Claro que o diretor vai tirar satisfações com o Cara Sinistro local, o sr. Price. No meio do processo ele afana, na cara de pau, um revólver que o senhor Price tinha guardado. Aí acontece uma conversa dos dois no subsolo da casa do Price... Basicamente não entendi muita coisa mas, pelo pouco que eu entendi, ele faz lápides para o cemitério...  mas pra quê? Em certa hora do filme ele diz que existe um túmulo vazio no cemitério... a finada patroa dele pediu isso. Mas pra quê????

As filmagens continuam. O livro é finalmente usado em uma cena. Na hora em que estão filmando, Dave some (suspeito... muito suspeito...). Enquanto a filmagem continua, o sr. Price, que está lendo um livro em sua casa (provavelmente Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas), escuta um som estranho vindo do cemitério e vai investigar.


"Desculpe querida... estou meio morto..."
Aí realmente a coisa fica confusa. A mão do defunto reanimado pelo ritual da filmagem sai da terra com uma lerdeza absurda. E mesmo assim ele consegue agarrar a perna - ou a barra da calça, não sei - do senhor Price. Conseguiram fazer uma cena lenta ser confusa. Como se alternam as imagens da filmagem - com a reanimação de um cadáver também, que criativo - com o que está acontecendo no filme, do nada já vemos o tal zumbi agarrado no pescoço do sr. Price.


 
Com a morte do sr. Price e o fim das filmagens, começam a empacotar as coisas. Essa tem, pra mim, uma das cenas que mais me assustaram durante a infância. Vemos as sombras de uma árvore balançando para, em seguida, surgir a sombra do zumbi avançando lentamente.

Ponto positivo: o  tal zumbi, ou ghoul nos créditos originais, não é mostrado logo de cara... bom, quer dizer, se você ignorar a imagem da caroncha dele no começo do filme. Agora fiquei na dúvida se dou um ponto ou se tiro um ponto.... enfim... vou considerar um ponto positivo.


Sempre achei esse Zumbi parecido com o Kiko.



O ponto negativo é a velocidade com que o zumbi se move. Eu cronometrei: logo de cara ele demora cerca de 40 segundos para percorrer uma distância de mais ou menos 4 metros, o que dá um metro percorrido a cada 10 segundos...
Logo de cara, mesmo com sua falta de velocidade , o zumbi mata logo 3. Um encurralado no caminhão de equipamentos e dois na sala onde filmavam. Sorte que um ficou esperando assustado enquanto o outro era esganado...

Gayle está esperando o diretor pra dar umas bitocas nele, mas que aparece é o defunto.  Como ela acabou de se perfumar e sente a catinga que o zumbi deve emitir, sai correndo dali. Pra dar mais aquele ar de filme de terror, ela cai na escada, mas se levanta e continua correndo. Vai pro quarto e pega a arma do diretor (cara, eu nem sabia que eles dormiam juntos ou que ela sabia da arma!). Só que na hora de meter uma azeitona no bicho feio, ela atira num colega de filmagem, o coitado do blablabla. Só depois de descarregar todos os tiros ela percebe que atirou errado. Fica tão chocada que entra de ré num quarto onde o zumbi a espera literalmente de braços abertos...

As roupas no varal!!!!
Anne escuta os tiros quando está tomando banho. Sai de toalha mesmo e encontra Gayle enforcada. Aí começa a gritar e cai... Até hoje  não sei se desmaiada ou morta.  Mas como posteriormente ela é encontrada no rio, acho que só desmaiou...








Enquanto isso o diretor e Dave estão fazendo uma tomada final no cemitério. Acabam encontrando o corpo do sr. Price. Dave mostra um tumulo vazio para o diretor e do nada começam a brigar. O diretor dá um golpe em Dave e o joga dentro da cova vazia. Enquanto está ali deitado ele resolve dar uma lida no que está escrito no túmulo vazio.
Aí o filme começa a abusar...

Ele lê a inscrição: "David... 1872-1896". Nessa mesma hora a mão de David emerge do túmulo... ele virou um zumbi!!!!

O diretor cai no meio do caminho quando fugia pra mansão e fica deitado no chão desacordado tempo suficiente pro zumbi chegar mais perto... mas ele acaba nem chegando. Pra você ver como ele também é lerdo.

Taca na mãe pra ver se quica!
Quando chega na casa ele vai encontrando todo mundo morto. Pra piorar, e o que deixa ele mais desesperado, alguém destruiu o filme todo do cara.  Enquanto grita desesperado, aparece o zumbi 1 e joga uma câmera em cima do diretor. Uma coisa é preciso reconhecer: essa foi uma morte bem original...


Uma montagem com as mortes dos Beal e do pessoal da filmagem é mostrada, meio que forçando uma associação entre as mortes do passado que se repetem. Mas levando em conta que os primeiros que morreram foram enforcados pelos zumbi, que similaridade é essa?

A cena final mostra o zumbi David encontrando o cadáver de Anne boiando sob uma ponte. Ele a pega nos braços e sai andando com ela. O amor é lindo! Ele entra na cova, ainda com Anne nos braços. É mostrada a placa com a inscrição do nome dele - eu imagino que fosse, porque nem é um close - e o filme termina deixando você com cara de tacho.

Scooby-dooby-doo!
Então... tipo... David era um zumbi o tempo todo e os trouxe pra lá pra morrerem... ou então ele virou um zumbi porque combinou a leitura do livro com ter caído na cova...

O zumbi 1 matou Anne jogando a coitada desmaiada no rio?

Quem afinal de contas matou o gato e por quê?

E pra que a cova vazia?







Essas e outras perguntas provavelmente nunca serão respondidas. Com essa febre de refilmagens que assola o cinema, talvez logo logo alguém resolva refilmar essa pérola desconhecida dos filmes B. E espero que dessa vez utilizem um pouco de massa corrida para tapar os buracos do roteiro.

De qualquer forma, esse filme é uma porcaria em vários níveis. Mas é um daqueles que valem a pena uma conferida.


A Casa dos 7 Mortos - Filme B (1 de 2)


Quando você é criança, qualquer filme de terror pode ser bem assustador,  ponto de fazer você fechar os olhos e ainda colocar as mãos por cima pra garantir. No meu caso, o filme de terror que mais me aterrorizou quando eu era pequeno não resisti ao olhar de um adulto.  Bom, quase...


O filme, dos anos 70, era uma das pérolas do SBT, um daqueles filmes que passavam tanto que a fita provavelmente estava a ponto de furar. O filme era presença garantida no Cinema em Casa, Festival de Filmes do SBT, Sabadocine, Oito e Meia no Cinema, Fim de Noite, Duas Sessões, Sessão Premiada, Quinta no Cinema, Sexta no Cinema e na lendária Sessão das Dez (que nunca começava antes de 22h30). Acho que ele só escapou de passar no Cine Disney...


Pôster Incrível!
Para escrever essa postagem, acabei revendo o filme inteiro. Por sorte alguém botou no Youtube uma versão gravada direto da Sessão das 10. Pelo menos a dublagem naquele tempo era uma coisa de qualidade...

E como o cérebro humano é uma coisa engraçada: por mais piadas que eu mesmo já tenha feito sobre todos as crateras no roteiro do filme, rever essa porcaria me fez sentir um pouco o que eu senti quando vi pela primeira vez esse filme. Medo.  Lá no fundo da mente algum arquivo empoeirado foi aberto, e de dentro saiu uma pasta com as emoções que circularam pela minha mente quando eu era só um moleque de 9 anos.

O enredo do filme não é dos piores:

Uma equipe de cinema está filmando em uma casa onde sete assassinatos foram cometidos. O zelador, o incrivelmente sinistro Sr. Price (John Carradine, incrivelmente sinistro) adverte o diretor Eric Hartman (o mítico John Ireland) que eles não devem mexer com coisas que eles não entendem (os tais sete assassinatos tinham relação com práticas ocultistas). O diretor ignora os avisos por querer ser o mais autêntico possível e orienta seu elenco a reencenar os rituais que ocorreram na casa. Acabam invocando um zumbi do cemitério que fica próximo da casa.
 
Bom, como eu disse, a ideia não é tão ruim. O problema mesmo é a maneira como o filme é conduzido.

Só pra avisar, daqui pra baixo vou encher de spoilers.  Não dá pra falar dos acertos (poucos ) e erros (muitos) desse filme sem falar muito sobre o que acontece no filme.

A ideia vem do básico do cinema de horror: um grupo de pessoas em um local antigo e afastado da civilização são confrontados com uma situação que envolve forças ocultas. Horror gótico em seu estado mais puro: uma mansão assombrada, um zelador sinistro, um gato chato...

Aliás, falando em Mansão Assombrada... a casa usada para a filmagem é a mansão do Governador de Utah, em Salt Lake City (EUA). Que lugarzinho mais macabro...
 
Mas que lugar macabro...
 
Brincadeira, pessoal. A mansão mesmo até que é bem bonitinha... Ponto para o pessoal do filme, que conseguiu achar o enquadramento e a iluminação adequados para transformar um prédio oficial em uma mansão de pesadelo.

 
Mas que lugar agradável!


 O filme começa com a morte de todos os membros da tal família Beal. Um é jogado do alto de uma escada, uma aparece afogada na banheira, um leva alguns tiros, uma surge enforcada, um toma uma série de porradas na cabeça, um é esfaqueado, um aparece afogado... essa cena inicial mais movimentada contrasta com o resto do filme, que se desenvolve muito mais mostrando as mazelas de uma equipe de cinema filmando com um diretor tirânico e estressado.


Fala a verdade... Não parece um daqueles filmes baseados na obra de Nelson Rodrigues?



Mas pelo menos o casal mais velho tem uma química melhor do que o casal jovem. É uma química em desequilíbrio constante, mas pelo menos tem algumas ligações covalentes...





Voltando ao filme: Aparentemente, ao longo dos anos, todos o membros dessa família fizeram pactos terríveis, venderam suas almas e tiveram mortes horríveis e violentas (Bom, levando em conta os tipos de mortes atuais nos filmes, não tão horríveis... ). Quando você para pra pensar sobre isso fica a pergunta: "Cara, será que nenhum deles pensou que fazer o tal ritual/vender sua alma não era lá uma coisa tão boa?"  O lema da família deveria ser "Repetir, repetir, repetir até ficar diferente." - Manoel de Barros.

Mas, enfim...

Após a morte dos membros da família, vemos uma mulher fazendo um ritual no melhor estilo cinema anos 70: ela diz algumas palavras de frente para um círculo desenhado no chão. De repente um rosto aparece no círculo.  É o rosto do zumbi que vai aparecer mais tarde e sair matando todo mundo do filme (Upsie! spoiler...). A mulher, por algum motivo, começa a gritar ~coisas tipo "Não! Vá embora!". Esse aí já é a primeira coisa sem explicação no filme. Logo em seguida é revelado que era tudo uma parte da filmagem. Se era uma parte da filmagem, por que o rosto do monstro apareceu no centro do círculo? Não era efeito especial da filmagem, não foi resultado do ritual, mas também não foi uma alucinação da atriz... então, por que o bicho apareceu? Ninguém menciona mais isso no filme...  Não tente entender.

Bem vindos à Casa do Terror...
A filmagem é interrompida pelo sinistro zelador da propriedade, o senhor Bóris Price. Durante a filmagem de uma cena de assassinato ele diz "Não foi assim que aconteceu!"

Conforme o sinistro zelador anda pela casa, mostrando as pinturas a óleo dos antigos moradores da casa e falando sobre suas mortes misteriosas, somos apresentados aos outros autores do filme:

- O tirânico diretor Eric Hartman, dono de um temperamento irascível e de uma língua afiada, está preocupado com suas filmagens e se dispõe tirar o melhor de sua equipe para terminar seu filme com qualidade, nem que para isso tenha que encher os pobres bastardos de porradas verbais (interpretado com brio pelo excelente ator veterano John Ireland, que participou, entre outras coisas, dos clássicos Spartacus e Rio Vermelho).

- Gayle Dorian, a estrela da filmagem. Ao longo do filme ficamos sabendo que ela já foi uma estrela de primeira grandeza, mas com a idade os papéis começaram a rarear e ela tem que se submeter a participar de filmes de quinta categoria - acaba sendo uma piada interna com o próprio filme. Ela também já teve algum tipo de rolo com o diretor. Ah, sim... ela possui um gato que tem nome de gata... Cléo.  (Gayle é interpretada por Faith Domergue [1924-1999], que também participou de vários filmes e era uma boa atriz. Infelizmente esse terror "classe C" foi seu último filme).
David (ou Dave para os íntimos) - Aparentemente o assistente do diretor, mas também faz uma ponta como um cara que é esfaqueado nas filmagens. Foi ele quem encontrou a mansão para as filmagens e parece ser o braço direito do diretor... segue o chefe pra todo lado como um cachorro. Ele tem algum rolo com Anne, a beldade feminina do filme. Interpretado por Jerry Strickler.

Anne - A típica mocinha de filme de terror. Fica o filme todo assustada ou mendigando a atenção do namorado/peguete/seja lá o que for David, que prefere ficar lendo o livro que achou na mansão... Esse David deve estar morto... (hehehe). Interpretada por Carole Wells.

 - Christopher Millan   - O galã da filmagem. Está sempre penteando o bigode e passando a mão pelos cabelos negros e fartos. Ele é o que participa ativamente do primeiro plot twist do filme: ao entrar em seu quarto depois da noite de filmagens, tira o bigode e a peruca.  Wow! (interpretado por Charles Macaulay, um medalhão do cinema. Cara gente boa, participou de alguns episódios de Jornada nas Estrelas inclusive).

E é isso. Existem mais outros tantos atores no filme, mas eles estão lá só pra ser mortos. Uma exceção, que só vou considerar por que sei lá, é o tal de Ron, o maquiador das filmagens e que por duas ou três vezes tenta ser o alívio cômico do filme. O problema é que ele é engraçado como um garoto de 9 anos. Os outros ficam pra lá e pra cá, montando cabos e carregando coisas.
Ou seja, desenvolvimento de personagens nota zero. O diretor é o tirano caricato, a estrela decadente acaba sendo seu amor bandido, o galã do filme fica fazendo monólogos como se estivesse em apresentações teatrais do nada, Dave realmente não se define e fica o tempo todo pra lá e pra cá com o tal livro embaixo do braço e Anne é praticamente Salsicha e Scooby Doo em uma mesma pessoa.

Nessa cena temos 4 atores e 2 figurantes.



A postagem estava ficando muito grande, então....

Continua.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Os Fantasmas do Túnel Rebouças



O Rio de Janeiro é uma cidade completa.  Tem ilhas paradisíacas, uma floresta urbana, praias bonitas, cachoeiras... e um monte de construções com fama de assombradas.

Vamos falar um pouco sobre uma construção que não tem apenas uma história de fantasmas, mas duas. Não é uma casa, nem um prédio, nem um castelo. É um túnel!

O Túnel Rebouças, com seus impressionantes 2.800 metros, liga a zona norte (bairro do Rio Comprido) à zona sul (bairro da Lagoa). Foi construído entre os anos de 1962 e 1967, na época em que o governador era Francisco Negrão de Lima e que a cidade do Rio de Janeiro era o Estado da Guanabara.

O nome Rebouças foi dado para homenagear a memória de dois irmãos, André e Antônio Rebouças, engenheiros baianos e netos de uma escrava alforriada. Os irmãos Rebouças (que na verdade eram três, havia também o José) além de engenheiros eram: inventor e abolicionista (André) e militar (Antônio) O túnel Rebouças é composto por duas galerias paralelas, cada uma recebendo o nome de um dos irmãos.  Nada mais justo. Uma impressionante obra de engenharia homenageando dois notáveis engenheiros.


Histórias (Assombradas) do Rebouças
Existem duas histórias assombradas com palco nesse local.

Uma delas se limita a relatos de trabalhadores da manutenção do túnel. Há muitos anos atrás (lá pelos idos de 1990) um jornal aqui do Rio de Janeiro publicou uma reportagem com vários relatos de pessoas que teriam presenciado aparições pela cidade. Um desses relatos era o de um trabalhador que trabalhava na manutenção do túnel. Em uma de suas rondas, na madrugada, o funcionário disse ter visto uma mulher loura, toda vestida de branco e com um sorriso sinistro. O mais inusitado, segundo a reportagem (e eu não inventaria isso, porque sempre achei a parte mais estranha do relato) a tal mulher caminhava no teto, nas passagens de serviço entre as galerias e nas próprias galerias.
 
Imagine atravessar isso tudo a pé... de noite... sozinho!


É isso. Nenhuma menção sobre quem seria essa tal loura ou sobre o que ela estaria fazendo lá... além de assombrando, claro.
 
 Por ser uma lenda pouco divulgada, os Colaboradores de Lendas Urbanas de Plantão não tiveram a oportunidade de incrementar a história da suposta aparição.  Ninguém disse que ela poderia ser:

- Uma noiva que morreu na semana de seu casamento em um acidente dentro do túnel e que agora vaga pelo local procurando o responsável.

- Uma noiva que morreu indo para o seu próprio casamento em um acidente dentro do túnel e que agora vaga pelo local procurando o responsável (é parecido, mas é diferente). 

- Uma mulher que foi abandonada pelo marido e resolveu se matar dentro do túnel, fazendo seu carro colidir intencionalmente. Só descobriram que foi suicídio por uma carta encontrada no porta-malas do carro. O fantasma dela agora ronda o local procurando maridos e namorados infiéis para matá-los.

- Uma dependente química que morreu de overdose nas proximidades do túnel, nas matas que rodeiam o local. Seu espírito vagará pelo túnel até que o corpo receba um enterro decente.

- Uma mulher que foi morta durante a construção do túnel por um dos engenheiros que trabalhou no local na época. Ela era amante do cara e estava ameaçando revelar o segredo para sua esposa. Com a ajuda de um cúmplice (um irmão dele ou um operário da obra que lhe devia um favor) ele enterrou o corpo da mulher no local da construção.  A mulher agora vaga pelo local procurando vingança contra as pessoas que a mataram e seus descendentes.

Gostei mais dessa última.  É bem clichê, mas foi o que consegui arranjar.

A outra história é mais elaborada.


Conta-se que, durante algum tempo, um opala preto atravessava o Rebouças nas madrugadas, correndo sempre em curso de colisão. Em alguns casos o carro sumia antes do impacto. às vezes não.

Aqui vou fazer uma pequena observação. O Poderoso Opala lá pelas décadas de 1970 e 1980 era o carro padrão dos matadores da Baixa Fluminense e dos bandidos motorizados em geral.  O carro tinha um bom arranque e ganhava muita velocidade, mas por ter a parte de trás leve, perdia estabilidade quando corria.  Qual a melhor solução para isso?  Bom, o porta-malas do Opalão era grande, cabia de 3 a 5 presuntos lá dentro. E não estou falando de presuntos suínos.  Então com a quantidade certa de defuntos no porta-malas, você podia fugir da polícia sem preocupação.

A fama de carro de bandido era tão grande, que a própria Chevrolet lançou a seguinte pérola propagandística:

Continuando...

A origem dessa história teria começado lá na década de 1970. Havia um bandidão na cidade que teria roubado um Chevrolet Opala SS preto (Estilosão! Mais badass motherfucker impossível!) e, ao ser perseguido pela polícia, acabou colidindo com o fusca (que transportava uma família) e todos morreram dentro do túnel. A internet diz que seu nome era alguma coisa fulano de tal Ubiratã.  Não estou me preocupando em reproduzir o nome todo do tal fulano aqui porque é um dado provavelmente inventado.  Assim como os crimes que foram atribuídos ao tal cara.  Eu prefiro acreditar que ele era só um ladrãozinho, talvez pé de chinelo, que resolveu roubar um carrão e virou churrasco fugindo da polícia.
Algum tempo depois, motoristas que cruzavam o túnel de madrugada começaram a relatar a aparição do tal Opala SS preto que corria em curso de colisão com outros carros, algumas vezes perseguindo, algumas vindo pela contramão.
Rola até um "acréscimo" da lenda: se os ocupantes do carro perseguido fizessem uma oração pela intenção da alma dos mortos no túnel, ele sumia e deixava o carro perseguido em paz. Se não, o opala não parava e game over para o carro perseguido. Minha pergunta sempre foi: quem do carro acidentado sobreviveu para contar que ninguém no carro rezou?  Outros contam que a perseguição do Opala SS não terminava em acidentes fatais, por isso os acidentados podiam relatar o que tinham visto.


Em 1988 a cidade e alguns pontos do estado foram atingida por uma grande chuva (4 dias de chuva consecutiva e 300 mortos no Estado  segundo levantamentos!) que, entre outras tragédias, causou um deslizamento de terra que interditou o túnel durante vários dias. Não sei qual a relação, mas desde então os avistamentos do tal carro pararam de acontecer.

De qualquer forma, sempre que eu passo por lá mantenho meus olhos bem abertos. Nunca se sabe que outros moradores o Rebouças ainda pode esconder...
 
Essas fotos são do desmoronamento de 2007... não achei as fotos da década de 80.

13 Fantasmas - A Mãe Cruel e a Grande Criança


Master Blaster
Tal como Master Blaster, do filme Mad Max - Além da Cúpula do Trovão, os dois fantasmas seguintes são praticamente um. Além de partilharem uma mesma história, os dois partilham o mesmo símbolo do Arcano.

Parece que uma ideia dos roteiristas era fazer a mesma coisa com pelo menos um outro fantasma: A Mulher Atada apareceria em conjunto com Chet, seu (ex?)namorado e assassino. A presença dele libertaria a fúria assassina do fantasma. De qualquer forma deve ter sido bom evitarem isso, ou talvez um fantasma com uma história interessante não teria aparecido no filme...




Margaret Shelburne, uma mulher com apenas 90 centímetros de altura, passou sua vida sendo vítima de humilhações e brincadeiras por parte daqueles que a cercavam. Sua própria mãe costumava vesti-la com roupas de boneca. Buscando aceitação, Margaret se juntou ao Circo de Jimbo, onde poderia conviver com pessoas que também  viviam à margem da sociedade. Margaret passou a ser exibida no Freak Show do tal circo. Certa noite, Margaret foi estuprada por uma outra atração do Freak Show, o Homem Alto. Depois de um tempo, ela deu a luz a uma criança que também era uma aberração de circo.

Harold, o filho de Margaret, cresceu e se tornou um homem imenso, tal como o pai, com a diferença de pesar aproximadamente 136 kg. Era muito amado por sua mãe e se tornou também o protetor dela. Harold manteve sua mentalidade de criança, e sua mãe continuava a vesti-lo com fraldas mesmo quando ele já havia se tornado um adulto.





Um dia alguns trabalhadores do circo sequestraram Margaret e, fazendo uma piada doentia, cruel e descerebrada, colocaram a mulher dentro de um saco e a mantiveram presa lá dentro. A brincadeira foi longe demais e a mulher acabou morrendo sufocada lá dentro.

Um símbolo para os dois
Harold, que não costumava ficar muito tempo longe da mãe, entrou em pânico com seu desaparecimento e, enfurecido, destruiu uma boa parte do circo. Ao descobrir o que havia acontecido com sua mãe, Harold se vingou dos que haviam participado da "brincadeira" matando-os com um machado e exibindo seus restos mortais no circo.

Jimbo, o dono do circo, reuniu uma multidão e enfrentaram Harold, matando-o.
Harold (A Grande Criança) em sua forma de fantasma carrega o machado que ele usou para matar as outras aberrações de circo que mataram sua mãe.
 
A inscrição em latim sob o símbolo para A Grande Criança e a Mãe Cruel, "Mures" significa "ratos".
 
O som que acompanha a presença dos dois são Lamúrias Infantis.
 
Os dois também compartilham o mesmo símbolo do arcano. 

terça-feira, 1 de novembro de 2016

O bebê de tarlatana rosa - João do Rio


- Oh! uma história de máscaras! quem não a tem na sua vida? O carnaval só é interessante porque nos dá essa sensação de angustioso imprevisto... Francamente. Toda a gente tem a sua história de carnaval, deliciosa ou macabra, álgida ou cheia de luxúrias atrozes. Um carnaval sem aventuras não é carnaval. Eu mesmo este ano tive uma aventura...



E Heitor de Alencar esticava-se preguiçosamente no divã, gozando a nossa curiosidade.

Havia no gabinete o barão Belfort, Anatólio de Azambuja de que as mulheres tinham tanta implicância, Maria de Flor, a extravagante boêmia, e todos ardiam por saber a aventura de Heitor. O silêncio tombou expectante. Heitor, fumando um gianaclis autêntico, parecia absorto.

- É uma aventura alegre? indagou Maria.

- Conforme os temperamentos.

- Suja?

- Pavorosa ao menos.

- De dia?

- Não. Pela madrugada.

- Mas, homem de Deus, conta! suplicava Anatólio. Olha que está adoecendo a Maria.

Heitor puxou um largo trago à cigarreta.

- Não há quem não saia no Carnaval disposto no excesso, disposto aos transportes da carne e às maiores extravagâncias. O desejo, quase doentio é como incutido, infiltrado pelo ambiente. Tudo respira luxúria, tudo tem da ânsia e do espasmo, e nesses quatro dias paranóicos, de pulos, de guinchos, de confianças ilimitadas, tudo é possível. Não há quem se contente com uma...

- Nem com um, atalhou Anatólio.

- Os sorrisos são ofertas, os olhos suplicam, as gargalhadas passam como arrepios de urtiga pelo ar. É possível que muita gente consiga ser indiferente. Eu sinto tudo isso. E saindo, à noite, para a pornéia da cidade, saio como na Fenícia saíam os navegadores para a procissão da Primavera, ou os alexandrinos para a noite de Afrodite.

- Muito bonito! ciciou Maria de Flor.

- Está claro que este ano organizei uma partida com quatro ou cinco atrizes e quatro ou cinco companheiros. Não me sentia com coragem de ficar só como um trapo no vagalhão de volúpia e de prazer da cidade. O grupo era o meu salva-vidas. No primeiro dia, no sábado, andávamos de automóvel a percorrer os bailes. Íamos indistintamente beber champagne aos clubes de jogo que anunciavam bailes e aos maxixes mais ordinários. Era divertidíssimo e ao quinto clube estávamos de todo excitados. Foi quando lembrei uma visita ao baile público do Recreio. - "Nossa Senhora! disse a primeira estrela de revistas, que ia conosco. Mas é horrível! Gente ordinária, marinheiros à paisana, fúfias do pedaços mais esconsos da rua de S. Jorge, um cheiro atroz, rolos constantes..." - Que tem isso? Não vamos juntos?"

Com efeito. Íamos juntos e fantasiadas as mulheres. Não havia o que temer e a gente conseguia realizar o maior desejo: acanalhar-se, enlamear-se bem. Naturalmente fomos e era desolação com pretas beiçudas e desdentadas esparrimando belbutinas fedorentas pelo estrado da banda militar, todo o pessoal de azeiteiros das ruelas lôbregas e essas estranhas figuras de larvas diabólicas, de íncubos em frascos de álcool, que têm as perdidas de certas ruas, moças, mas com os traços como amassados e todas pálidas, pálidas feitas de pasta de mata-borrão e de papel-arroz. Não havia nada de novo. Apenas, como o grupo parara diante dos dançarinos, eu senti que se roçava em mim, gordinho e apetecível, um bebê de tarlatana rosa. Olhei-lhe as pernas de meia curta. Bonitas. Verifiquei os braços, o caído das espáduas, a curva do seio. Bem agradável. Quanto ao rosto era um rostinho atrevido, com dois olhos perversos e uma boca polpuda como se ofertando. Só postiço trazia o nariz, um nariz tão bem-feito, tão acertado, que foi preciso observar para verificá-lo falso. Não tive dúvida. Passei a mão e preguei-lhe um beliscão. O bebê caiu mais e disse num suspiro: - ai que dói! Estão vocês a ver que eu fiquei imediatamente disposto a fugir do grupo. Mas comigo iam cinco ou seis damas elegantes capazes de se debochar mas de não perdoar os excessos alheios, e era sem linha correr assim, abandonando-as, atrás de uma freqüentadora dos bailes do Recreio. Voltamos para os automóveis e fomos cear no clube mais chic e mais secante da cidade.

- E o bebê?

- O bebê ficou. Mas no domingo, em plena Avenida, indo eu ao lado do chauffeur; no burburinho colossal, senti um beliscão na perna e urna voz rouca dizer: "para pagar o de ontem". Olhei. Era o bebê rosa, sorrindo, com o nariz postiço, aquele nariz tão perfeito. Ainda tive tempo de indagar: aonde vais hoje?

- A toda parte! respondeu, perdendo-se num grupo tumultuoso.

- Estava perseguindo-te! comentou Maria de Flor.

- Talvez fosse um homem... soprou desconfiado o amável Anatólio.

- Não interrompam o Heitor! fez o barão, estendendo a mão.

Heitor acendeu outro gianaclis, ponta de ouro, continuou:

- Não o vi mais nessa noite e segunda-feira não o vi também. Na terça desliguei-me do grupo e cai no mar alto da depravação, só, com uma roupa leve por cima da pele e todos os maus instintos fustigados. De resto a cidade inteira estava assim. É o momento em que por trás das máscaras as meninas confessam paixões aos rapazes, é o instante em que as ligações mais secretas transparecem, em que a virgindade é dúbia e todos nós a achamos inútil, a honra uma caceteação, o bom senso uma fadiga. Nesse momento tudo é possível, os maiores absurdos, os maiores crimes; nesse momento há um riso que galvaniza os sentidos e o beijo se desata naturalmente.

Eu estava trepidante, com uma ânsia de acanalhar-me, quase mórbida. Nada de raparigas do galarim perfumadas e por demais conhecidas, nada do contato familiar, mas o deboche anônimo, o deboche ritual de chegar, pegar, acabar, continuar. Era ignóbil. Felizmente muita gente sofre do mesmo mal no carnaval.

- A quem o dizes!... suspirou Maria de Flor.

- Mas eu estava sem sorte, com a guigne, com o caiporismo dos defuntos índios. Era aproximar-me, era ver fugir a presa projetada. Depois de uma dessas caçadas pelas avenidas e pelas praças, embarafustei pelo S. Pedro, meti-me nas danças, rocei-me àquela gente em geral pouco limpa, insisti aqui, ali. Nada!

- É quando se fica mais nervoso!

- Exatamente. Fiquei nervoso até o fim do baile, vi sair toda gente, e saí mais desesperado. Eram três horas da manhã. O movimento das ruas abrandara. Os outros bailes já tinham acabado. As praças, horas antes incendiadas pelos projetores elétricos e as cambiantes enfumadas dos fogos de bengala, caiam em sombras - sombras cúmplices da madrugada urbana. E só, indicando a folia, a excitação da cidade, um ou outro carro arriado levando máscaras aos beijos ou alguma fantasia tilintando guizos pelas calçadas fofas de confete. Oh! a impressão enervante dessas figuras irreais na semi-sombra das horas mortas, roçando as calçadas, tilintando aqui, ali um som perdido de guizo! Parece qualquer coisa de impalpável, de vago, de enorme, emergindo da treva aos pedaços... E os dominós embuçados, as dançarinas amarfanhadas, a coleção indecisa dos máscaras de último instante arrastando-se extenuados! Dei para andar pelo largo do Rocio e ia caminhando para os lados da secretaria do interior, quando vi, parado, o bebê de tarlatana rosa.

Era ele! Senti palpitar-me o coração. Parei.

- "Os bons amigos sempre se encontram" disse.

O bebê sorriu sem dizer palavra. Estás esperando alguém? Fez um gesto com a cabeça que não. Enlacei-o. - Vens comigo? Onde? indagou a sua voz áspera e rouca. - Onde quiseres! Peguei-lhe nas mãos. Estavam úmidas mas eram bem tratadas. Procurei dar-lhe um beijo. Ela recuou. Os meus lábios tocaram apenas a ponta fria do seu nariz. Fiquei louco.

- Por pouco...

- Não era preciso mais no Carnaval, tanto mais quanto ela dizia com a sua voz arfante e lúbrica: - "Aqui não!" Passei-lhe o braço pela cintura e fomos andando sem dar palavra. Ela apoiava-se em mim, mas era quem dirigia o passeio e os seus olhos molhados pareciam fruir todo o bestial desejo que os meus diziam. Nessas fases do amor não se conversa. Não trocamos uma frase. Eu sentia a ritmia desordenada do meu coração e o sangue em desespero. Que mulher! Que vibração! Tínhamos voltado ao jardim. Diante da entrada que fica fronteira à rua Leopoldina, ela parou, hesitou. Depois arrastou-me, atravessou a praça, metemo-nos pela rua escura e sem luz. Ao fundo, o edifício das Belas-Artes era desolador e lúgubre. Apertei-a mais. Ela aconchegou-se mais. Como os seus olhos brilhavam! Atravessamos a rua Luís de Camões, ficamos bem embaixo das sombras espessas do Conservatório de Música. Era enorme o silêncio e o ambiente tinha uma cor vagamente ruça com a treva espancada um pouco pela luz dos combustores distantes. O meu bebê gordinho e rosa parecia um esquecimento do vicio naquela austeridade da noite. - Então, vamos? indaguei. - Para onde? - Para a tua casa. - Ah! não, em casa não podes... - Então por aí. - Entrar, sair, despir-me. Não sou disso! - Que queres tu, filha? É impossível ficar aqui na rua. Daqui a minutos passa a guarda. - Que tem? - Não é possível que nos julguem aqui para bom fim, na madrugada de cinzas. Depois, às quatro tens que tirar a máscara. - Que máscara? - O nariz. - Ah! sim! E sem mais dizer puxou-me. Abracei-a. Beijei-lhe os braços, beijei-lhe o colo, beijei-lhe o pescoço. Gulosamente a sua boca se oferecia. Em torno de nós o mundo era qualquer coisa de opaco e de indeciso. Sorvi-lhe o lábio.
Mas o meu nariz sentiu o contato do nariz postiço dela, um nariz com cheiro a resina, um nariz que fazia mal. - Tira o nariz! - Ela segredou: Não! não! custa tanto a colocar! Procurei não tocar no nariz tão frio naquela carne de chama.

O pedaço de papelão, porém, avultava, parecia crescer, e eu sentia um mal-estar curioso, um estado de inibição esquisito. - Que diabo! Não vás agora para casa com isso! Depois não te disfarça nada. - Disfarça sim! - Não! procurei-lhe nos cabelos o cordão. Não tinha. Mas abraçando-me, beijando-me, o bebê de tarlatana rosa parecia uma possessa tendo pressa. De novo os seus lábios aproximaram-se da minha boca. Entreguei-me. O nariz roçava o meu, o nariz que não era dela, o nariz de fantasia. Então, sem poder resistir, fui aproximando a mão, aproximando, enquanto com a esquerda a enlaçava mais, e de chofre agarrei o papelão, arranquei-o. Presa dos meus lábios, com dois olhos que a cólera e o pavor pareciam fundir, eu tinha uma cabeça estranha, uma cabeça sem nariz, com dois buracos sangrentos atulhados de algodão, uma cabeça que era alucinante - uma caveira com carne...

Despeguei-a, recuei num imenso vômito de mim mesmo. Todo eu tremia de horror, de nojo. O bebê de tarlatana rosa emborcara no chão com a caveira voltada para mim, num choro que lhe arregaçava o beiço mostrando singularmente abaixo do buraco do nariz os dentes alvos. - Perdoa! Perdoa! Não me batas. A culpa não é minha! Só no Carnaval é que eu posso gozar. Então, aproveito, ouviste? aproveito. Foste tu que quiseste...

Sacudi-a com fúria, pu-la de pé num safanão que a devia ter desarticulado. Uma vontade de cuspir, de lançar apertava-me a glote, e vinha-me o imperioso desejo de esmurrar aquele nariz, de quebrar aqueles dentes, de matar aquele atroz reverso da Luxúria... Mas um apito trilou. O guarda estava na esquina e olhava-nos, reparando naquela cena da semitreva. Que fazer? Levar a caveira ao posto policial? Dizer a todo o mundo que a beijara? Não resisti. Afastei-me, apressei o passo e ao chegar ao largo inconscientemente deitei a correr como um louco para a casa, os queixos batendo, ardendo em febre.
Quando parei à porta para tirar a chave, é que reparei que a minha mão direita apertava uma pasta oleosa e sangrenta. Era o nariz do bebê de tarlatana rosa...

Heitor de Alencar parou, com o cigarro entre os dedos, apagado. Maria de Flor mostrava uma contração de horror na face e o doce Anatólio parecia mal. O próprio narrador tinha a camarinhar-lhe a fronte gotas de suor. Houve um silêncio agoniento. Afinal o barão Belfort ergueu-se, tocou a campainha para que o criado trouxesse refrigerantes e resumiu:

- Uma aventura, meus amigos, uma bela aventura. Quem não tem do Carnaval a sua aventura? Esta é pelo menos empolgante.

E foi sentar-se ao piano.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

13 Fantasmas - A Paregrina, A Princesa Colérica, A Amante Recatada


A Peregrina

Em 1675, a órfã Isabella Smith deixou a Inglaterra esperando achar um lar numa vila da Nova Inglaterra. Mas problemas começaram logo após sua chegada. 

Símbolo da Peregrina
Os moradores da vila não confiavam em forasteiros. Quando o gado começou a morrer misteriosamente, Isabella foi acusada pelo padre local de bruxaria. Ela negou, mas todos se voltaram contra ela. Além dos animais mortos sem explicação, o padre também ficou doente. Os aldeões perseguiram Isabella pelas ruas e finalmente a encurralaram em um celeiro e atearam fogo ao local. Momentos depois Isabella saiu, misteriosamente, ainda viva, sem uma queimadura na pele. Julgada pelo conselho da cidade, foi sentenciada à ficar aprisionada no tronco, em praça pública diante de todo o povo. Lá ela ficou por semanas, apedrejada por crianças, amaldiçoada e cuspida, e a humilhação foi demais. Isabella acabou definhando e morrendo.


Não se sabe até hoje se Isabella era ou não uma bruxa.

A peregrina é o único fantasma que não possui uma inscrição em latim sob seu símbolo no Arcanum.


Princesa Colérica


Dana Newman era uma mulher de rara beleza (que cafona...). Seu grande problema era a incapacidade de reconhecer essa beleza. Sua baixa auto-estima a fez procurar dezenas de cirurgiões plásticos com um único objetivo: reparar as imperfeições que apenas ela enxergava. Somado a isso, os sucessivos relacionamentos com namorados abusivos em nada contribui para sua saúde mental.
  
Certa noite, enquanto estava sozinha na clínica onde trabalhava, Dana tentou realizar uma cirurgia em si mesma devido a uma imperfeição (imaginária) em seu rosto. O procedimento não ortodoxo deu terrivelmente errado (também, né?), e a deixou cega de um olho.

Símbolo da Princesa Colérica
Após esse terrível acontecimento, cometeu suicídio em sua banheira de uma maneira bem incomum: usou uma faca de açougueiro para fazer vários cortes em seu corpo, sangrando até a morte. Quando seu corpo foi descoberto, ela foi descrita por seus entes queridos como sendo "bonita na morte como era na vida" (só que cheia de cortes pelo corpo).

Em sua versão fantasma, a Princesa empunha a faca de açougueiro que usou para se matar. 

Quando se manifesta, são ouvidos sussurros que dizem "Eu sinto muito."

A inscrição em latim sob o símbolo Princesa Colérica no Arcano, "sibi consciscere mortem", traduzido como "suicídio".







A Amante Recatada


 Jean Kriticos era a esposa amorosa de Arthur Kriticos e mãe de Bobby e Kathy. Jean amava sua família profundamente e era um exemplo de mãe  e esposa. Mas a felicidade da família foi abalada por um acontecimento trágico. Depois de decorar a árvore de natal a família se aconchegou diante da lareira.  



Na mesma noite, uma acha de lenha rolou para fora, incendiando o tapete.; a casa rapidamente foi dominada pelas chamas. Arthur  deixou Jean para salvar Bobby e Kathy, ao pensar que ela poderia sair por si mesma e esperar por eles. Jean, com queimaduras no lado esquerdo do rosto e do corpo, foi levada para o Hospital São Lucas, onde morreu em decorrência das queimaduras.

Símbolo da Amante Recatada
A inscrição em latim sob símbolo da Amante Recatada, "Amator Marcidus", traduz em "Amante Lânguido". 


Ao contrário dos outros fantasmas que cometem alguma forma de violência com as outras pessoas, ela ajuda sua família sempre que possível..




Continua