domingo, 25 de setembro de 2016

Corretagem



O corretor falou para o casal sobre a localização, o bom estado e o preço excelente do imóvel.

Mas nunca mencionaria os corpos que o antigo inquilino emparedara antes de se matar.


segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Reddit, Ranker e Relatos Perturbadores


Internet, fonte inesgotável de pesadelos, noites de insônia e caraminholas na cabeça...

Já ouviu falar no Reddit? Apesar de (ainda) não ter se tornado tão popular no Brasil, essa rede já possui em torno de 67 milhões de visitantes, isso em um único mês. Basicamente o Reddit é uma comunidade de fóruns onde os usuários votam conteúdos, interagem enviando links de conteúdo externo, se envolvem em discussões (no bom sentido), respondem perguntas, promovem iniciativas, etc, etc etc.



Pra quem quiser saber mais...


Sim, mas onde isso se encaixa no perfil desse blog?

Acontece que no Reddit também dá pra se encontrar um monte de relatos assustadores e reais, em teoria enviados por pessoas comuns, como eu e você. Alguns realmente merecem ser mencionados... Se forem obras de fantasia, quem os escreveu está perdendo a chance de trabalhar como roteirista de filme de terror ou escritor.

A primeira vez que tive contato com o Reddit foi através de um outro site, o Ranker (http://www.ranker.com/ ) onde esses relatos mais assustadores são organizados por categorias.

Então, sem mais delongas, segue a seleção dos relatos que mais me impressionaram:


1 - Trabalhador de Parque encontra casa abandonada e barracão assustador.

"Um barracão atrás de uma casa abandonada com uma porta de aço reforçado que tinha sido arrancada de suas dobradiças. As janelas do barracão estavam fechadas com tábuas pregadas pelo lado de fora. A única coisa dentro do barracão era uma cama Queen Size com lençóis rasgados e parcialmente chamuscados."


Depois de ler fiquei me perguntando o que queriam manter preso lá dentro, o que escapou e pra onde foi... Felizmente o cara que contou não ficou sabendo, ou seria um relato a menos.



2 - Busca por excursionistas adolescentes perdidos encontra área com brinquedos mutilados

"Havia um grupo de excursionistas adolescentes que não fizeram contato depois que o tempo agendado para o retorno se esgotou. Eu e um colega nos encaminhamos para a direção em que eles haviam seguido. Andamos o dia todo e não vimos nada.


Já tínhamos avançado uns 35 km dentro da floresta quando começamos a perceber coisas estranhas. Haviam galhos esculpidos como lanças presos ao chão, estranhos entalhes nas árvores, um animal de pelúcia "enforcado" em uma árvore. Esse lugar estava longe das estradas, não era uma trilha regular usada pelos frequentadores do parque e, o que era mais estranho, tudo aquilo parecia recente. Alguém havia estado ali poucas horas antes e fizera aquilo.






Continuamos nossa busca pelos adolescentes e acabamos por levantar nosso acampamento para passar a noite. Estávamos perto do tal lugar estranho, mas conseguimos dormir sem problemas. Quando o Sol nasceu, nos preparamos para continuar nossa busca, cobrindo mais áreas. Já estávamos prontos para sair quando notei uma tira de camisa presa a alguns galhos e pegadas. Pensamos: Que bom, talvez estejamos perto dos adolescentes. Foi então que recebemos uma chamada pelo rádio. Os adolescentes tinham acabado de ser encontrados 20 km a leste de nossa posição e estavam chamando todos os grupos de busca de volta. Todas as coisas estranhas que tínhamos visto no dia anterior voltaram à minha mente e tratamos de sair da floresta o mais rápido que podíamos."

Outro bom exemplo de que Ignorância é Benção.

3 - Relato de um ferroviário sobre uma cabeça de cão sobre um crucifixo

"A coisa mais assustadora que já vi foi em West Philly*. Alguém cortou a cabeça de um pitbull e a enfiou em galhos cruzados que formavam uma cruz ao lado dos trilhos. Tinham recheado o corpo do bicho com flores e frutas onde a cabeça estava, espalharam flores ao redor e havia uma vela apagada na base da cruz. Parecia vudu ( na versão original, 'Looked like some f*cked up voodoo sh*t.')"



* Corruptela de West Philadelphia, local que não possui uma boa fama entre seus vizinhos.

4 - Maquinista vê homem misterioso com casaco

"(...) Uma vez, no meio da noite e no meio do inverno (10 graus e uma camada de 30 cm de neve no chão) meu trem sofreu uma avaria. Tive que andar ao longo de todo o trem para identificar o problema. Tinha parado bem no meio de uma cidade muito pequena. Enquanto andava pelos trilhos, vi um cara de pé na na frente de uma casa me encarando, uns 10 metros perto de mim. Estava usando uma pesada capa de chuva e um gorro. A primeira coisa que estranhei era que estava muito frio pra se usar só uma capa de chuva. Iluminei o cara, acenei com a lanterna e disse 'Oi'. Nada. O cara nem se moveu.



Continuei andando e passei pelo cara e fui até o final do trem, sempre olhando para trás. Cheguei ao fim, virei e voltei. Passei pela casa onde o cara ainda estava de pé, na mesma posição. Nem disse nada dessa vez. Só acelerei o passo e voltei para a cabine do trem.

No dia seguinte eu voltava de trem para casa. Olhei bem para a tal casa onde o homem estava parado quando passei por ela. Não havia nada ali. Nada que eu pudesse ter confundido com um homem numa capa de chuva. Já passei por esta casa dezenas de vezes e nunca vi nada lá. Nem um carro parado na garagem, nem uma luz acesa, nem qualquer coisa."



5 - Guarda Patrimonial escuta gritos terríveis de mulher pedindo ajuda



Eu trabalhei como vigia noturno em uma propriedade grande. Não só o prédio era grande, toda a área em volta também era. Provavelmente 50 acres.

Não estava em uma das melhores áreas e era bem isolada. Felizmente havia uma subdivisão da polícia perto. Havia uma longa estrada que levava até lá, mas tinham colocado uma guarita no caminho.

Uma noite saí do prédio para minha ronda, na parte dianteira do prédio que era iluminada. Assim que fechei a porta atrás de mim e dei um passo ouvi uma voz gritando "OH, MEU DEUS! ALGUÉM POR FAVOR ME AJUDE!!!!" bem no final da calçada. Foi um pouco fraco e eu corri uns cinco passos na direção do grito, mas derrapei e corri de volta pra dentro para chamar a polícia. Eles responderam mandando várias viaturas e até um helicóptero. Não encontraram absolutamente nada.

Eu acho que alguém queria me atrair lá pra fora."


Derrapada Deus Ex Machina.

Vento lá fora

Noite.

Nono andar.

- Tem alguém lá fora, papai.

- É só o vento - respondo fechando as  cortinas e ignorando o rosto que me encara do outro lado da janela.


terça-feira, 13 de setembro de 2016

Trilha


Continuei correndo pela trilha o mais rápido que podia. Se chegasse bem longe da cidade quando a lua cheia surgisse, não machucaria ninguém.


 

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

A Casa do Pedágio - W.W. Jacobs (Parte 3)


Ele olhou rapidamente para a porta. "Pensei ter ouvido alguém", disse, com uma risada envergonhada. "Agora, Lester,vamos subir com ele. Um, dois... Lester! Lester!"

Ele saltou para a frente tarde demais; Lester, com o rosto enterrado em seus braços, rolou no chão, dormindo, e mesmo seus maiores esforços não conseguiram despertá-lo.

"Ele... dormiu", gaguejou. "Dormiu!"

Barnes, que pegara a vela da lareira, ficou olhando para os que dormiam em silêncio, a cera da vela pingando sobre o chão.

"Temos de sair daqui", disse Meagle. "Rápido!"

Barnes hesitou. "Nós não podemos deixá-los aqui..." começou.

"Nós devemos," disse Meagle, em voz estridente. "Se você dormir, eu também...  Rápido! Vamos!"

Ele agarrou o outro pelo braço e se esforçou para arrastá-lo até a porta. Barnes livrou-se dele, e, colocando a vela em cima da lareira, tentou novamente acordar os adormecidos.

"Isso não é bom", disse ele por fim, e, voltando-se a para Meagle. "Você não vai dormir!", disse ele, ansioso.

Meagle sacudiu a cabeça, e puseram-se por algum tempo em silêncio desconfortável. "Devíamos fechar a porta", disse Barnes, finalmente.

Ele cruzou a sala e fechou-a suavemente. Então, após um ruído atrás de si, virou-se e viu Meagle escorado na lareira.


Com uma parada brusca na respiração, ele ficou imóvel. Dentro da sala a vela, com sua luz bruxuleante, mostrou as posições grotescas dos adormecidos. Além da porta sua imaginação parecia revelar uma estranha e furtiva agitação. Ele tentou assobiar, mas seus lábios estavam ressecados, e de forma mecânica inclinou-se e começou a pegar as cartas espalhadas pelo chão.

Parou uma ou duas vezes e ficou com a cabeça inclinada, escutando. A agitação do lado de fora parecia aumentar; um rangido alto soou das escadas.

"Quem está aí?" ele gritou em voz alta.

O ranger cessou. Ele foi até a porta, e, abrindo-a, saiu para o corredor. Enquanto caminhava seus medos o abandonaram de repente.

"Vamos!" ele gritou, com uma risada baixa. "! Todos vocês! Mostrem seus rostos - suas caras feias e infernais! Parem de se esconder!"


Ele riu novamente e avançou; colocou a cabeça para fora como uma tartaruga e ouviu com horror passos se afastando. Quando eles se tornaram inaudíveis na distância, relaxou.

"Bom Deus, Lester, nós o enlouquecemos", disse ele, em um sussurro assustado. "Nós temos que ir atrás dele."

Não houve resposta. Meagle ficou de pé.

"Você escutou?" ele chorou. "Pare de enganar agora, isso é sério. White! Lester! Vocês ouvem!?"

Ele se inclinou e examinou-os com raiva. "Tudo bem", disse ele, com a voz trêmula. "Não vão me assustar, sabiam?"

Ele virou-se e andou com despreocupação exagerado na direção da porta. Foi para fora e olhou pela fresta, mas os adormecidos não se moveram. Ele olhou para a escuridão atrás, e voltou correndo para a sala novamente.

Permaneceu parado por alguns segundos sobre eles, escutando. O silêncio na casa era horrível; ele não poderia mesmo ouvi-los respirar. Com uma resolução repentina, ele pegou a vela da lareira e manteve a chama no dedo de White. Cambaleou para trás estupefato e os passos tornaram-se novamente audíveis.

Ficou com a vela na mão tremendo, escutando. Ouviu-os subir a escada mais longe, mas pararam de repente quando ele foi até a porta. Caminhou um pouco ao longo da passagem e os passos saíram correndo pelas escadas, seguidos por um desbalada carreira no corredor abaixo. Voltou para a escada principal, e cessaram novamente.

Por um tempo, ficou parado perto dos balaústres, ouvindo e tentando enxergar algo na escuridão abaixo; em seguida, lentamente, passo a passo, ele caminhou até o térreo, e, segurando a vela acima da cabeça, olhou o local.

"Barnes!" ele chamou. "Onde está voce?"

Tremendo de medo, ele caminhou ao longo da passagem, e reunindo toda a sua coragem, empurrou as portas e olhou temerosamente as salas vazias. Então, de repente, ele ouviu os passos na frente dele.


Seguiu lentamente com medo de que a vela se apagasse, até que chegou, finalmente, a uma vasta cozinha nua, com paredes úmidas e um piso quebrado. Na frente dele uma porta que dava para um quarto interior tinha acabado de se fechar. Correu em direção a ela e abriu e um ar frio apagou a vela. Ficou horrorizado.

"Barnes!" ele gritou novamente. "Não tenha medo É...  Meagle"

Não houve resposta. Ficou encarando a escuridão com a impressão de que algo por perto o observava. Então, de repente os passos eclodiram em cima novamente.
Recuou às pressas, e, passando pela cozinha, tateou seu caminho ao longo das passagens estreitas. Agora ele podia ver melhor na escuridão, e encontrando-se, por fim, ao pé da escada, começou a subir sem fazer barulho. Chegou ao patamar bem a tempo de ver uma figura desaparecer em uma esquina. Ainda com o cuidado de não fazer nenhum ruído, seguiu o som dos passos até chegar ao andar superior e encurralou o perseguido no final de uma curta passagem.

"Barnes!" ele sussurrou. "Barnes!"

Algo se agitou na escuridão. Uma pequena janela circular no final da passagem amenizou a escuridão e revelou os contornos sombrios de uma figura imóvel. Meagle, em vez de avançar permaneceu imóvel enquanto uma súbita e horrível dúvida se apossou dele. Com os olhos fixos na forma em frente, afastou-se lentamente. A forma avançou sobre ele, que explodiu em um grito terrível.

"Barnes! Pelo amor de Deus! É você?"

O eco de sua voz estremeceu o ar, mas a figura diante dele não prestou atenção. Por um momento  tentou preparar a sua coragem para enfrentar a aproximação mas, em seguida, com um grito sufocado, virou-se e fugiu.

As passagens abriam-se como um labirinto e ele correu às cegas procurando, em vão, as escadas. Se ele pudesse descer e abrir a porta do salão...

Prendeu a respiração em um soluço; os passos tinha recomeçado. Em um trote desajeitado eles ecoavam em cima e embaixo, nas passagens nuas, dentro e fora como se estivesse em busca dele. Entrou em uma pequena sala e ficou atrás da porta esperando. Então saiu e correu rapidamente, procurando não fazer ruído, na direção oposta. Os passos o seguiram. Encontrou o longo corredor e correu ao longo dele em o mais rápido que podia. Sabia que as escadas estavam no final e, com os soando nos seus calcanhares, desceu às cegas. Os passos o alcançaram e ele jogou-se para o lado,  deixando-os passar, ainda continuando sua fuga precipitada. Então, de repente, ele sentiu-se deslizar  no espaço.
Lester acordou de manhã para encontrar a luz do sol fluindo para dentro do quarto, e White sentado e olhando com certa perplexidade para um dedo queimado.

"Onde estão os outros?" perguntou Lester.

"Se foram, eu suponho", disse White. "Devemos ter dormido."

Lester se levantou, e, esticando suas pernas enrijecidas, tirou a poeira de suas roupas e saiu para o corredor. White o seguiu. Ao som de sua aproximação, uma figura que estava dormindo na outra extremidade sentou-se e revelou o rosto de Barnes. "Por que eu dormi?", ele disse, com surpresa. "Eu não me lembro de vir aqui. Como cheguei aqui?"

"Belo lugar para uma sesta", disse Lester severamente, enquanto apontava para a abertura nos balaústres. "Olha lá! Outro lugar onde você poderia ter estado?"

Ele caminhou descuidadamente até a borda e olhou para baixo. Em resposta ao seu grito assustado os outros aproximaram-se, e todos os três ficaram olhando para o homem morto logo abaixo.


FIM

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

A Casa do Pedágio - W.W. Jacobs (Parte 2)

II

"Parece dureza termos que perder uma noite de descanso para convencer Barnes que fantasmas existem", disse White.

"É por uma boa causa", disse Meagle. "Um objetivo digno e acho que vamos ter sucesso Você trouxe as velas, Lester.?"

"Eu trouxe duas", foi a resposta; "tudo do que o velho tinha."

A luz do luar era fraca e o céu estava coberto de nuvens. A estrada que seguia entre sebes altas estava escura e em certa parte, onde ela cruzava a floresta, eles tropeçaram ao menos duas vezes.

"Deixamos nossas camas confortáveis ​​para isso!" disse White novamente. "Deixe-me ver, o sepulcro residencial desejável está para a direita, não é?"

"Mais adiante", disse Meagle.

Eles andaram por algum tempo em silêncio, quebrado apenas pelo tributo de White para a suavidade, a limpeza e o conforto da cama que foi afastado cada vez mais. Sob a orientação de Meagle eles viraram à direita, e, depois de uma caminhada de aproximadamente 400 metros, viram as portas da casa diante deles.

A casa estava parcialmente escondida atrás de arbustos e a estrada estava sufocada com galhos crescidos. Com Meagle a frente, eles empurraram os galhos até que os pilares negros da casa surgiram diante deles.

"Há uma janela na parte de trás, por onde podemos entrar, segundo o proprietário", disse Lester, quando eles pararam diante da porta.

"Janela?" disse Meagle. "Bobagem. Vamos fazer isso direito. Onde está?"

Tateou pela escuridão e começou a sacudir a porta, trovejando na escuridão.

"Não banque o tolo", disse Barnes, irritado.

"Os criados fantasmas estão todos dormindo", disse Meagle gravemente, "mas eu vou acordá-los antes de acabar com eles. É um absurdo nos deixar aqui no escuro."

Ele sacudia a maçaneta de novo, e o barulho ecoava no vazio da casa. Em seguida, com uma exclamação, ele estendeu as mãos e tropeçou para a frente.

"Estava aberta o tempo todo", disse ele, com um som estranho na sua voz. "Vamos."

"Eu não acredito que estava aberta", disse Lester, parado na retaguarda do grupo. "Alguém está nos pregando uma peça."

"Bobagem", disse Meagle bruscamente. "Me dê uma vela. Obrigado. Quem tem um fósforo?"

Barnes riscou e acendeu a vela, e Meagle, protegendo a vela com a mão, abriu caminho até o pé da escada. "Alguém feche a porta", disse ele; "Está ventando muito."

"Ele está fechada", disse White, olhando atrás dele.

Meagle coçou o queixo. "Quem fechou?" Ele perguntou, olhando de um para o outro. "Quem passou por último?"

"Fui eu", disse Lester, "mas não lembro de ter fechado... Talvez eu tenha."
Meagle ia dizer algo mas pensou melhor, e, ainda protegendo a chama, começou a explorar a casa, com os outros logo atrás. Sombras dançavam nas paredes e escondiam os cantos conforme eles passaram. No final da passagem eles encontraram uma segunda escada, e subiram  lentamente para o primeiro andar.

"Cuidado!" disse Meagle, conforme os outros chegavam.

Ele segurou a vela a frente e mostrou onde os balaústres tinham rompido. Então olhou com curiosidade para o vazio embaixo.

"Este é o lugar onde o vagabundo se enforcou, eu acho", disse ele, pensativo.

"Você tem uma mente doentia", disse White, enquanto andavam. "Este lugar é assustador o suficiente sem você lembrar isso. Agora vamos encontrar um quarto confortável, tomar um pouco de whiskey e fumar nossos cachimbos. Pode ser?"

Ele abriu uma porta no final da passagem e revelou uma pequena sala quadrada. Meagle foi a frente com sua vela, e, derramando algumas gotas de cera, prendeu-a em cima da lareira. Os outros sentaram-se no chão e assistiram White tirar do bolso uma pequena garrafa de uísque e um copo de lata.

"Hum! Esqueci a água!"

"Logo vai ter alguma", disse Meagle.

Ele puxou violentamente um cordão suspenso e o tilintar enferrujado de um sino soou em uma cozinha distante. Ele tocou novamente.

"Não banque o tolo", disse Barnes aproximando-se.

Meagle riu. "Eu só queria convencê-lo", disse ele gentilmente. "Deve haver, pelo menos, um fantasma na sala dos criados."

Barnes levantou a mão pedindo silêncio.

"Sim?" disse Meagle, com um sorriso para os outros dois. "Tem alguém vindo?"

"Suponha que nós deixamos isso pra lá e voltemos", disse Barnes de repente. "Eu não acredito em espíritos, mas os ninguém controla totalmente seus nervos. Fique a vontade pra rir, mas juro que ouvi uma porta aberta abaixo e passos na escada."

Sua voz foi afogado em uma gargalhada.

"Lá vem ele", disse Meagle, com um sorriso. "Quando eu terminar, ele vai ser um crente completo.

Bem, quem vai pegar um pouco de água? Será que, você, Barnes?"

"Não", foi a resposta.

"Se houver alguma, pode não estar boa para beber depois de todos esses anos", disse Lester. "Nós temos que fazer sem ela."
 
Meagle assentiu, e sentando no chão, estendeu a mão para o copo. Cachimbos foram acesas, e o cheiro limpo, saudável de tabaco encheu a sala. White produziu um baralho de cartas; o som de vozes e risos ecoaram pela sala e morreu na relutância em corredores distantes.

"Quartos vazios sempre me fazem acreditar que eu possuo uma voz profunda", disse Meagle.

"Amanhã eu..."

Ele começou com uma exclamação sufocada quando a luz se apagou de repente e algo o atingiu na cabeça. Os outros saltaram. Então Meagle riu.

"É só a vela", ele exclamou. "Eu não a prendi bem."

Barnes riscou um fósforo, e tornou a acender a vela, prendeu-a em cima da lareira, e sentando-se, pegou suas cartas novamente.

"O que eu ia dizer?" disse Meagle. "Oh, eu sei, para amanhã ..."

"Escutem!" disse White, segurando o outro pela manda. "Palavra de honra que eu realmente pensei ter ouvido uma risada."

"Olhe aqui!" Barnes disse. "O que você disse sobre voltar? Eu já estou farto disso! Eu estou imaginando coisas também? Sons de algo se movendo na passagem lá fora... eu sei que é apenas fantasia, mas é desconfortável."

"Você vai se você quiser", disse Meagle, "e nós jogar dummy*. Você pode pedir pro vagabundo segurar sua mão quando for descer."

Barnes estremeceu e soltou uma exclamação com raiva. Levantou-se, e, caminhando para a porta entreaberta, escutou.

"Vá lá fora", disse Meagle, piscando para os outros dois. "Eu te desafio a ir até a porta da sala e voltar sozinho."

Barnes voltou, e, inclinando-se, acendeu o cachimbo na vela.

"Estou nervoso, mas racional", disse ele, soprando uma nuvem fina de fumaça. "Meus nervos me dizer que há algo rondando pra cima e para baixo lá fora; minha razão me diz que isso é tudo bobagem Onde estão as minhas cartas.?"

Sentou-se de novo, e, pegando sua mão, olhou-o cuidadosamente.

"Sua vez, White," ele disse, depois de uma pausa.

White não fez nenhum sinal.

"Ora, ele está dormindo", disse Meagle. "Acorde, velho. Acorde e jogue."

Lester, que estava sentado ao lado dele, pegou o adormecido pelo braço e sacudiu-o, delicadamente no início e depois com mais força, mas White, com as costas contra a parede e a cabeça baixa, não fez nenhum sinal. Meagle gritou em seu ouvido, e depois virou um rosto intrigado com os outros.

"Ele dorme como um morto", disse ele, fazendo uma careta. "Bem, ainda existem três de nós para manter companhia um ao outro."

"Sim", disse Lester, balançando a cabeça. "A menos que... Bom Deus! Suponha..."

Ele parou, e olhou para eles, tremendo.

"Suponha o quê?" perguntou Meagle.

"Nada", gaguejou Lester. "Vamos acordá-lo. Tente outra vez. White! White!"

"Isso não é bom", disse Meagle a sério; "Há algo de errado com esse sono."

"Isso que eu quis dizer", disse Lester; "E se ele vai dormir assim, por que não deveria..."

Meagle saltou de pé. "Bobagem", disse ele asperamente. "Ele está cansado, só isto. Ainda assim, vamos levá-lo para cima. Você pega as pernas e Barnes vai na frente com a vela. Quem é esse...?"



*Dummy - Jogo de cartas


(continua)

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Ronda

Naquele horário não havia mais ninguém no prédio. Mesmo assim o vigia noturno viu a porta do elevador se abrir e fechar. E podia jurar que viu uma mulher velha la dentro.


terça-feira, 6 de setembro de 2016

A Casa do Pedágio - W.W. Jacobs (Parte 1)


Observação: Apesar do grande interesse em ler esse conto, só o encontrei no seu original (o inglês). 
Sendo assim, publico essa versão traduzida por mim e pelo meu  amigo de todas as horas, o Google.
vocês vão perceber que os diálogos foram modernizados para ficarem mais coloquiais... ainda não decidi se isso é um ponto positivo o negativo.


I

"É tudo besteira!", disse Jack Barnes."Claro que pessoas morreram naquela casa! Pessoas morrem em toda casa. E sobre os tais ruídos... vento na chaminé e ratos na lambris são muito convincentes para um homem nervoso. Me dê outra xícara de chá, Meagle" "

"Lester e White primeiro.", disse Meagle, que estava presidindo a mesa de chá da Pousada Três Penas. "Você já tomou duas."

Lester e White terminaram suas xícaras com uma lentidão irritante, fazendo uma pausa entre goles para sentir o aroma. Meagle serviu-os até a borda, e, em seguida, voltando-se para o Barnes, que esperava sisudo, suavemente solicitou-o para que pedisse mais água quente.

"Vamos tentar manter seus nervos em uma condição saudável", ele comentou. "Falo por mim... tenho uma espécie de crença parcial no sobrenatural."

"Todas as pessoas sensatas têm", disse Lester. "Uma tia minha viu um fantasma uma vez."

White concordou.

"Eu tinha um tio que viu um", disse ele.

"É sempre outra pessoa que os vê", disse Barnes.

"Bem, essa tal casa", disse Meagle, "é uma casa grande com um aluguel absurdamente baixo, e ninguém se arrisca. Tomou como pedágio pelo menos uma vida de cada família que viveu lá -  até os que ficaram pouco tempo - e desde que ficou vazia, zelador depois de zelador morreu por lá. O último morreu há quinze anos. "

"Exatamente", disse Barnes. "Tempo suficiente para as lendas se acumularem."

"Aposto um Soberano você não passa a noite lá sozinho, mesmo com toda a sua conversa", disse White de repente.

"E eu!", disse Lester.

"Não", disse Barnes lentamente. "Eu não acredito em fantasmas nem em quaisquer coisas sobrenaturais, seja lá quais forem. Admito que eu não deveria me importar em passar uma noite lá sozinho."

"Mas por que não?" perguntou Branco.

 "Vento na chaminé", disse Meagle, com um sorriso.

  "Ratos no lambril?", opinou Lester.

  "Como você quiser", disse Barnes, enrubescendo.

"Suponha que todos nós vamos?" disse Meagle. "Vamos depois do jantar, lá pelas onze chegamos lá. Estamos há dez dias sem uma aventura... Exceto a descoberta de Barnes da vala com água. Será uma novidade, de qualquer forma, e se quebrarmos o encanto e todos sobrevivermos, o proprietário pode nos dar algo em agradecimento".

"Vamos ver o que o proprietário tem a dizer sobre isso primeiro", disse Lester. "Não há diversão em passar uma noite em uma casa vazia ordinária. Vamos ter certeza de que é mal-assombrada."

 Tocou a campainha do proprietário e apelou em nome da nossa humanidade comum para que não os deixasse desperdiçar uma noite observando uma casa da qual espectros e duendes não fizessem parte. A resposta foi mais do que reconfortante, e o proprietário, depois de descrever com arte considerável a aparência exata de uma cabeça que tinha sido vista saindo de uma janela sob o luar, acabou com um pedido educado, mas urgente, para que acertassem suas dívidas com ele naquele momento.

"Não há nenhum problema em vocês, jovens cavalheiros, terem o seu divertimento," ele disse com indulgência; "Mas, supondo que você sejam todos encontrados mortos de manhã... e quanto a mim? Ela não é chamada de Casa do Pedágio à toa, sabem?."

 "Quem morreu lá pela última vez?" perguntou Barnes, com um ar de desdém educado.

"Um vagabundo", foi a resposta. "Ele foi para lá por uma aposta de meia-coroa, e eles o encontraram na manhã seguinte pendurado nos balaústres, morto."

  "Suicídio", disse Barnes. "Insanidade mental".

 O proprietário concordou. "Isso foi o que o júri disse", falou ele lentamente; "Mas sua mente era sólida o suficiente quando ele foi lá. Eu o conhecia há anos. Sou um homem pobre, mas eu não iria passar uma noite naquela casa nem por cem libras."

Ele repetiu essa observação quando eles começaram sua expedição algumas horas mais tarde. Saíram na hora em que a Pousada fechava; trovões explodiram ruidosamente atrás deles, e, enquanto os clientes regulares se arrastavam lentamente para a Casa do Pedágio, eles rumaram na direção da casa em ritmo acelerado. A maioria das casas já estavam às escuras e as luzes em outras iam se apagando conforme eles passavam.


(continua)

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Top 05: Invertebrados que você não quer ver subindo pelo seu braço

 
Baratas, centopéias, libélulas, aranhas, carangueijos, vermes...   
 
O número estimado de insetos  em nosso planeta é de cerca de 10 quintilhões, ou o número “10” seguido por 18 zeros.
 
Ou seja, 10.000000000000000000.
 
Mas esse número é estimado. Não existem dados exatos sobre quantas espécies diferentes de insetos existem, o que dificulta um censo que inclua todos eles, segundo David Hogg, professor de entomologia da Universidade de Wisconsin-Madison e especializado em populações ecológicas e manejo de pragas.
 
Ou seja, em outras palavras: sabemos que são muitos, mas não sabemos quantos são exatamente.
 
E, o que talvez seja pior, podem existir insetos por aí que são perfeitos personagens de pesadelos e nós meros mortais podemos só descobrir isso quando toparmos com um desses.

E se não considerarmos apenas os insetos, mas invertebrados em geral... imagine que bichos estão soltos por aí e nós não temos nem ideia... nas florestas, perto das pedras nas praias e lagoas, nos lixões da cidade...
 
Existem algumas listas na internet, mas essa aqui é pesonalizada.
 
Top 5 invertebrados que você não quer ver subindo pelo seu braço.
 
 
 
5 - Barata Rinoceronte (Macropanesthia rhinoceros)
 
Natural da Austrália (onde os insetos são tão grandes que possuem barra de energia). Ao contrário de suas primas, ela não é considerada uma praga pois decompõem as folhas mortas e outras matérias. 
 
Se bem que as daqui também fazem isso no esgoto, mas nem por isso gostamos mais delas...
 
 
 
 
 
 
 
4 - Verme de Fogo (Eunice aphroditois)
 
 

Conhecido como verme-do-fogo, pode ser encontrado em águas rasas e arenosas, mais especificamente no Indo-Pacífico. Além de mandíbulas poderosas (capazes de mastigar até corais!), esses bichos são cobertas por espinhos neurotóxicos, capazes de provocar perda permanente de sensibilidade em qualquer parte animal que entra em contato com eles, inclusive dedos humanos.
 
Eles podem crescer até 3 metros de comprimento, embora a média observada esteja em torno de 1 metro, o que já é um tamanho considerável.
 
Ele poderia rapidamente mastigar o seu dedo, uma vez que se encontrasse a uma pequena distância. São extremamente agressivos. Já foram registrados 5 casos de mortes causados por esse animal (3 crianças e 2 adultos).
 
 
 03 - Cerambicídeo-Gigante / Serra-Paus (Titanus giganteus)
 
Habitam florestas tropicais no norte da América do Sul (!), em especial na Região Norte do Brasil, Guianas, Colômbia, podendo ser encontrados no Equador e no Peru.
 
Os adultos atingem entre 17cm e 20cm de comprimento (sem contar as antenas!). Quando ameaçado, os cerambicídeos-gigantes são capazes de cortar pedaços de madeira em dois. Carne humana, então, devem ser maria-mole nessas mandíbulas. Ainda que não se alimentem de carne, eles atacam para defender seu território. As larvas deste besouro ainda não foram encontradas, mas furos em árvores tropicais sugerem que elas alcancem cerca de 30 cm de comprimento e 5 cm de largura.
 
 
02 - Gejigeji (Scutigera Coleoptrata)
 
 
 
 
Essa aí é comum no Japão e regiões mediterrâneas, onde parece que são até animaizinhos de estimação (putz!). Entretanto, passaram a assumir natureza sinantrópica (ou seja, passaram a colonizar habitações humanas e seus arredores, retirando vantagens em matéria de abrigo, acesso a alimentos e a água... ou seja[2]: confira seu sapato antes de calçá-lo).
 
Apesar da aparência ameaçadora, essas coisas caçam baratas e aranhas, não sendo agressivas ao ser humano... pelo menos, eu acho...  
 
 
01 - Lagosta Gigante da Tasmânia (Astacopsis gouli)
 
 
 
Mais uma da Austrália, mais especificamente da Tasmânia.
 
 
Chegavam a mais de 70 cm de comprimento, podendo pesar mais de 7 kg. Atualmente, devido à predação humana e poluição, os indivíduos de mais de 2 Kg são raros.
 
Suas garras são capazes de cortar até mesmo ossos. Amputações e esmagamentos de dedos de nadadores que se aventuraram em diques na Tasmânia provam isso.
 
Infelizmente, estes magníficos animais estão ameaçados por práticas da exploração madeireira.
 
 
Fontes:

http://ciencia.hsw.uol.com.br/contando-insetos1.htm

http://dedetizadoraimuniservice.blogspot.com.br/2010/09/imuni-service-responde-quantos-insetos.html

www.wikipedia.org.br

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Entrega para o Professor Barreto

 O relógio de parede marcava 16h45 quando o entregador dos correios cruzou a porta. Trazia um pacote do tamanho de uma caixa de sapato embrulhado em papel pardo na mão esquerda e uma expressão de mal estar no rosto.

- Boa tarde. Entrega para o senhor Barreto. – Arfou o recém-chegado.

Mena desviou os olhos dos papeis que organizava no fichário. Ergueu-se mais por educação do que por necessidade e contornou sua mesa, indo na direção do homem.

- O Professor Barreto não está. Sou a secretária dele... O senhor está bem? Parece meio...

Ia dizer pálido, mas na verdade o rosto do homem mostrava um tom amarelo doentio. Apesar da temperatura agradável, sua testa estava porejada de suor e o peito da camisa do uniforme, molhada.

O homem derrubou a caixa sobre a mesa e cambaleou. Mena conseguiu amparar a queda parcialmente. Usando o corpo como uma escora, aproximou-se a tempo do sofá de espera, onde o homem desabou.

Foi para o corredor pedir ajuda, mas não havia ninguém ali. As aulas haviam terminado no dia anterior e o vigilante que deveria estar ali sumira.

Voltou correndo e encheu um copo com água. Quando passava na direção do bebedouro, ao olhar o homem, notou que ele parecia melhor. Ou, pelo menos, melhorando.

Entregou o copo. A mão do homem ainda tremia um pouco, mas o suor na testa havia diminuído.

- Desculpe, dona. Não sei o que aconteceu... Desde que desci do carro não estou muito bem.

O homem bebeu o copo de água com goles curtos, respirando fundo enquanto o fazia.

- Nossa! Parecia uma mistura de resfriado, dengue e anemia... Cruz Credo! Devo ter te assustado muito, né?

- Um pouco, sim.

- Mas já estou melhor. – entregou o copo e levantou com certo esforço. Tirando um papel amarrotado do bolso traseiro da calça, entregou-o para a secretária.

– Assine aqui, por favor. Onde está marcado de caneta. Nome e R.G.

A secretária obedeceu, mas lançou um olhar preocupado ao entregar o papel.

- Tem certeza de que está bem? Pode ficar mais um pouco se precisar...

- Não, não. Estou me sentindo melhor mesmo. Deve ter sido uma bobeira... Depois procuro um médico e faço alguns exames... Coisa da idade...  Bom, obrigado pela ajuda.

Quando saía, olhou rapidamente para a caixa, sentindo um arrepio percorrer sua nuca.

Mena foi até o corredor e o observou caminhar até a rampa que levaria ao hall dos elevadores. Talvez o homem tivesse abusado da sorte e, em vez de esperar pelo elevador, resolveu vir pelas escadas. Nem todo mundo estava preparado para subir nove andares. Aquele mal estar podia ter sido a maneira do corpo dizer “corta essa”.

Todos os outros departamentos já haviam encerrado, mas o professor Titular do Departamento de História Antiga resolvera ficar até mais tarde. Que bom pra ele.

Olhou para a caixa caída sobre a mesa. Havia o endereço e o nome do remetente. Um tal José de Arimatéia havia enviado a encomenda de Porto Velho. Pensou por quantas mãos aquela encomenda passara antes de chegar ao Rio de Janeiro. O que seria?

Ergueu a mão e aproximou o dedo em riste para tocar a fileira de 12 selos postais. Sempre fora fascinada por selos, chegou a ter uma coleção quando era adolescente. O dedo tocou o selo.

Ela o recolheu rapidamente.

Sentiu uma onda de repulsa percorrer seu corpo. Mas não foi o selo. Tocar o pacote foi como tocar algo desagradável, algo ruim... Lembrou-se do dia em que uma lacraia subiu por sua perna enquanto tomava banho. Trincou os dentes.

O telefone tocou:

- Departamento de História, sala do Professor Titular Barreto.

- Boa tarde, senhorita Mena. Sou eu. Alguém me procurou?

- Boa tarde. O professor Venceslau deixou os resultados das avaliações de desempenho dos alunos junto com um material de pesquisa que o senhor havia solicitado. E chegou um pacote para o senhor...

Ouviu o Professor respirar profundamente pelo telefone.

- Dispense qualquer um que aparecer e cancele qualquer compromisso da noite.

Mena sentiu a conhecida voz do seu chefe diferente. Ele parecia empolgado. Desligou o telefone e ficou pensando se a empolgação seria por causa do material deixado pelo outro professor ou por causa da caixa.

Deixou o pacote onde estava e concentrou-se nos seus afazeres.

Já passavam de 17h50 quando o professor chegou. Lançou um olhar para a caixa, ainda sobre a mesa. Depois de cumprimentar a secretária rapidamente, pegou o pacote e o envelope deixado pelo professor e entrou em sua sala.

Passaram-se alguns minutos. Mena estava atualizando planilhas com os horários de agosto quando o telefone de sua mesa tocou. Dois toques curtos, dois toques longos. Ligação interna.

- Senhorita Mena, a senhora já pode ir pra casa. Preciso analisar alguns itens e não vou mais receber ninguém hoje.

Dessa vez a voz do chefe parecia ainda mais diferente. Ele parecia cansado.

- Tem certeza, Professor? Ainda não são nem...

- Todos já foram embora. Vá para casa também. Nos vemos em agosto. Bom descanso.

E desligou.

Mena obedeceu. Recolheu todos os papéis de cima da mesa, desligou o computador e arrumou sua bolsa. Saindo da sala, viu o vigilante parado no corredor. Ele a cumprimentou, mas ela preferiu ignorar.

Já estava perto da entrada do Metrô quando parou. Procurou na bolsa por quase 5 minutos até desistir e reconhecer que tinha de voltar. Suas chaves de casa ficavam no mesmo chaveiro onde as que abriam sua gaveta no trabalho estavam. Não era a primeira vez que as esquecia. Percorreu o caminho até o hall dos elevadores xingando-se mentalmente.  

Apertou o botão do elevador. Com o fim das aulas, só um elevador funcionava. Utilização consciente de recursos. Xingou o dono dessa ideia também.

Atravessou a rampa do nono andar andando rápido. Bufou ao ver que o vigilante, mais uma vez, não estava ali.

No caminho para a sala, o próprio som de seus passos no corredor vazio a sobressaltou. Nunca sentira problemas em ficar ali sozinha, mesmo quando precisava trabalhar até tarde. Mas agora alguma coisa estava diferente. Era como se algo a espreitasse ou esperasse por ela.

Abriu a porta lentamente, procurando não fazer barulho. Não queria dar ao chefe a impressão de ser distraída ou avoada. Entrou como um ladrão e viu a chave presa na gaveta. Conseguiu pegá-la evitando o tilintar denunciador e fechava o zíper da bolsa quando ouviu um som na sala do professor.

Ficou parada ouvindo. Então o som se repetiu. Parecia um balão com água sendo espetado. Aproximou-se da porta. Já havia se convencido de que imaginara o som, quando um gemido chegou aos seus ouvidos.

Ela empurrou a porta devagar, abrindo só uma fresta. A luz da sala estava apagada, mas uma luz bruxuleante iluminava fracamente o ambiente. Ela sentiu cheiro de parafina. Pela fresta podia ver apenas a parede repleta de diplomas do Professor.

- Professor Barreto? O senhor está bem?

Empurrou a porta mais um pouco e entrou.

O Professor Barreto estava caído de borco sobre a mesa, a cabeça tombada sobre um dos braços, o outro escondido sob o corpo. Ela conseguiu ver a caixa aberta perto da mesa, no chão, e uma vela acesa sobre o tampo da mesa. Acendeu a luz e aproximou-se, chamando o professor pelo nome. Notou que na parede atrás dele uma espiral vermelha havia sido desenhada. Foi então que estacou. O professor começou a se mexer.

Se mexer não era a palavra adequada. Na verdade era como se ele tivesse sido atacado por um acesso de tosse. O corpo se sacudia, mas era um movimento estranho, espasmódico. Foi então que ele ergueu o corpo, mas mesmo esse não foi um movimento natural. Parecia que alguém havia puxado cordas invisíveis e que o professor, agora um marionete, havia sido levantado.  O movimento violento fez com que a vela caísse no carpete da sala, mas ela não percebeu isso.

O rosto do homem estava coberto pelo que pareciam as maiores espinhas do mundo. Tinham o tamanho de uvas. Algumas haviam estourado e vazavam um líquido amarelado.  Enquanto olhava, paralisada e sentindo sua sanidade se esvair, uma das espinhas do rosto estourou, com o mesmo som que ela ouvira a pouco.

Ela conseguiu ver a outra mão do professor, a que estava escondida sob seu corpo. Primeiro achou estranha a posição como a mão se projetava. Um estalo fez com que ela percebesse que aquela não era a mão do professor. E com uma certeza maldita ela soube que aquilo havia saído da caixa que chegara pelo correio.

Era uma mão humana seca e mumificada. A cor amarelada era a mesma que vira no rosto do entregador. A mão do professor que segurava aquela abominação estava coberta pelas mesmas pústulas que apareciam no rosto, com a diferença de que a grande quantidade tornava o membro irreconhecível. Parecia uma couve flor alienígena, inchada e pulsante.

As últimas coisas que viu antes de sair correndo da sala foram alguns papéis que pareciam pergaminhos sobre a mesa na frente do professor e os olhos do homem. Eram os olhos de um louco que se atreveu a abrir portas que deveriam ser mantidas fechadas e teve o cérebro reduzido a nada pelo conhecimento que alcançou.

O detector de fumaça apitando fez com que o vigilante abandonasse a conversa com a menina bonitinha da cantina e corresse na direção do Bloco B. Parou antes de chegar à sala de onde vinha o som, pois a secretária estava deitada em posição fetal no meio do corredor. Quando outros vigilantes chegaram ao local, a sala já ardia em chamas. O incêndio foi controlado a tempo, tendo destruído apenas a sala do professor e parte da antessala. O corpo do professor foi encontrado calcinado.


A secretária nunca contou o que viu naquele lugar e pediu demissão antes do final das férias.  Atribuíram isso ao incidente. Depois disso, não se soube mais dela.

Um ano depois, ao final da reforma, a sala recebeu o nome do professor, como uma homenagem póstuma, e foi cedido ao Centro Acadêmico dos alunos de História. Apesar de ficarem satisfeitos com o espaço, não era incomum ouvir reclamações entre os que frequentavam o local. Alguns falavam sobre o cheiro de algo queimado que parecia impregnar o ambiente de vez em quando. Outros não se sentiam confortáveis quando a noite chegava. Sentiam-se observados por algo mau.

Não sabiam, mas realmente algo espreitava nas sombras.
Hedjan C.S.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Listinha


Último dia de aula. Correu e arrancou o papel com o nome dos coleguinhas de turma da parede. Ainda não decidira quem mataria primeiro.



O U-28 e o Monstro do Atlântico - outras reflexões

 
Morte Aquática do Passado
Apesar de ser opinião dos céticos que a história do encontro entre o U-28 e o monosauro nasceu da popularidade dos contos sobre monstros de lago, como o famoso Monstro do Lago Ness, é importante perguntar por que um oficial da Marinha de carreira e, ainda por cima, detentor do título de Barão, iria se esforçar para inventar uma história tão bizarra como esta. Uma regra é quase certa em situações assim: encontros com o inexplicável tendem a levar ao ridículo aquele que o divulga. Li em algum lugar que pescadores de pequenas vilas costumam trazer animais bem estranhos em suas redes mas acabam jogando esses 'monstros' de volta no mar para não ficarem estigmatizados entre seus colegas.

Infelizmente as outras 6 testemunhas do ocorrido, incluindo o quarto-oficial Dieckmann, o maquinista-chefe Ziemer, o oficial de máquinas Romeiss e os cozinheiros de bordo Robert Mass e Able Bartles morreram durante a guerra, o que torna o relato do comandante o único existente.
 
 
 
Em 1935, o livro "Case for the Sea Serpent", escrito por R. T. Gould, foi publicado na Alemanha. Este livro ofereceu ainda mais detalhes sobre o estranho acontecimento, a verdadeira causa da final explosivo da Ibérica:

"(...) a descrição de um animal estimada em 20 metros de comprimento, visto por mim e alguns membros da tripulação do submarino U-28 em 30 de julho de 1915 no Oceano Atlântico; [Ele] foi avistado a estibordo, a cerca de 60 milhas náuticas ao sul de Fastnet Rock, no exterior da borda sudoeste da Irlanda, após o naufrágio do navio britânico Ibérica. "


O Farol em Fastnet Rock
"Este animal foi arremessado cerca de 20 ou 30 metros no ar por uma explosão subaquática cerca de 25 segundos após o naufrágio do navio. É possível que esta foi causada pela detonação de um artefato explosivo a bordo, cuja existência assumimos estava escondido a bordo, ou a partir de uma pequena explosão de caldeira ... Esta explosão certamente poderia ter sido o resultado de uma detonação, mas na minha opinião, só uma explosão nos espaços mais profundos dentro do navio poderia ter produzido tal pressão de ar. " 

Alguns acreditam que a criatura avistada seria um mosasauro, devido à descrição do comandante. Entretanto, com base na descrição do comandante a respeito dos pés do animal ("pés palmados"), parece haver uma semelhança maior entre o animal em questão e a família dos também extintos crocodilos marinhos gigantes conhecidos como thalattosuchia. O termo "crocodilo" é mal empregado, sendo o mais adequado Crocodylomorpha, um importante grupo dos Arcossauros, que incluem aves e os crocodilianos.



Crocodilo Thalattosuchia

Alguns descartam essa teoria devido ao fato de Von Forstner ter descrito a besta como tendo uma cauda aguçada, em vez de bilobal (ou em foice) como os peixes, o que caracterizaria a cauda de um thalattosuchia. Apesar deste ser um ponto válido, deve-se manter em vista que uma explosão tão maciça como a que atingiu o Iberian poderia ter causado algum dano colateral ao tal monstro/enigma aquático, que, segundo o relato, foi arremessado em direção ao céu pela explosão. Não é viajar demais sugerir que uma pequena parte da cauda do bicho foi removido durante a tal detonação.

Em 2 de setembro, do mesmo ano, o U-28 foi danificado seriamente no Cabo Norte depois de ser atingido por destroços do navio de munições Olive Branch, que explodiu depois de ser torpedeado por U-28, no melhor estilo feitiço que se vira contra o feiticeiro.

Infelizmente - como em muitos desses casos - a verdade sobre este fato, junto com os restos do Ibérica, podem estar perdidos para sempre no fundo do oceano.

Um site legal para quem desejar saber mais é esse aqui, do Amazing Mike Dash. Parece ser interessante, analítico e bem completo.... eu é que ainda não tive saco pra ler.

http://blogs.forteana.org/node/93

O dia em em que o U-28 detonou um mosasauro

Se tem uma coisa que sempre me inquietou foi o oceano. Inquietou não é a palavra mais adequada... acho que melhor seria: "o oceano sempre me deixou bolado".

Cresci perto de uma praia e mesmo nos dias divertidos de domingo quando ainda era um moleque, quando parava pra contemplar aquela imensidão misteriosa e tudo que ela podia esconder me dava vontade de nem chegar perto das suas ondas.

O mar é traiçoeiro - ouvido de um pescador uma vez.

O oceano é o maior cemitério do planeta - ouvido de um colega de R.P.G. certa vez.

Nós conhecemos pouco mais de 1% do que existe no oceano - segundo a pesquisadora brasileira Lúcia Campos, bióloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).


Então, enquanto alguns ainda debatem se a câmera da Petrobrás filmou uma água-viva gigante, um animal desconhecido, uma rede de pesca ou uma placenta de baleia (eca!), vamos voltar nossa atenção para um suposto avistamento de um animal pré-histórico em plena I Guerra Mundial.
 
 

O dia em em que o U-28 detonou um monasauro

 
 
O SMS U-28 era um submarino alemão (ou U-Boat, corruptela da palavra alemã Unterseeboot, ou barco submarino) da classe U-27, lançado ao mar antes da Primeira Guerra Mundial, mais precisamente em 30 de agosto de 1913. Realizou cinco patrulhas, afundando ao todo 40 navios. Entrou em serviço na Kaiserliche Marine no dia 26 de junho de 1914.

A Kaiserliche Marine ou Marinha Imperial foi a marinha criada pela formação do Império Alemão. Existiu entre 1871 e 1919.
 
















Sua missão, como a de outros submarinos alemães durante as duas Grandes Guerras, era a de patrulhar o Atlântico e torpedear navios cargueiros, cortando linhas de suprimentos e instalando o terror ao matar civis inocentes. Eram os lobos do mar, caçando em alcatéias ou solitariamente.

Alemães Bastardos!


Insignia de Guerra da Marinha Imperial Alemã

Von Forstner
O Kapitänleutnant (algo como Tenente-capitão) von Forstner recebeu o comando do U-27. Siegfried Freiherr von Forstner (21 de novembro de 1882 - 29 de outubro de 1940) pertencia a uma família aristocrática com gerações de oficiais militares e recebeu diversar condecorações durante sua carreira militar.
 
Medalhas Recebidas:
 
 
 
 
Cruz de Friedrich-August
Ordem de Leopoldo
Tais informações (de onde veio, como era sua carreira, etc) me parecem fundamentais para que as informações a seguir não sejam vistas como simples bravata, brincadeira ou divagação de seu autor. Militares não são exemplos de imaginação exacerbada (perdoem-me a generalização, mas preciso fundamentar a minha defesa) e um militar de carreira vindo de uma família de oficiais teria muito mais a perder do que a ganhar contando histórias da carochina.

No dia 30 de julho de 1915 o U-28 torpedeou no Atlântico Norte o vapor britânico Iberian. Enquanto o barco afundava, ocorreu algo muito estranho. Esse é o relato dos fatos que o capitão do submarino fez no diário de bordo:


"No dia 30 de julho de 1915 o U-28 torpedeou o vapor britânico Iberian, que transportava um rico carregamento através do Atlântico Norte. O vapor afundou tão rapidamente que sua proa ficou quase verticalmente no ar. Momentos depois, o casco do Iberian desapareceu.

Os restos se mantiveram sob a água durante uns vinte e cinco segundos, a uma profundidade que era claramente impossível de avaliar, quando de repente se produziu uma violenta explosão que lançou pedaços de escombros da água até uma altura de aproximadamente 80 pés (24,38m) e entre eles, um animal aquático gigantesco.
 
Nesse momento eu tinha comigo na torre seis de meus oficiais, entre eles o chefe de máquinas, o navegador e o timoneiro. Simultaneamente, a todos nos chamou a atenção aquele colosso dos mares, que se retorcia e lutava entre os escombros.

Não pudemos identificar à criatura, mas todos estivemos de acordo que se parecia com um crocodilo, que tinha uns 60 pés (18,29m) de comprimento, com quatro extremidades semelhantes a grandes pés palmados, uma cauda longa e pontiaguda, e uma cabeça que também terminava em ponta.

Lamentavelmente, não pudemos tomar uma fotografia, já que o animal desapareceu de nossa vista após dez ou quinze segundos."


Análises posteriores desse relato aventaram a hipótese de que o animal em questão seria um remanescente de uma espécie já extinta, um mosassauro.
 
Os mosassauros eram répteis pré-históricos da família Mosasauridae que foram os principais predadores dos oceanos do final do Cretáceo. O grupo não está relacionado com os dinossauros nem com os plessiossauros (répteis marinhos), pertencendo antes à ordem dos escamados, que inclui atualmente as cobras e os lagartos. Pensa-se que os mosassauros tenham surgido no Cretáceo inferior, a partir de animais terrestres.
 
 
O nome do grupo deve-se fato de que seu primeiro fóssil foi descoberto numa pedreira holandesa, no vale do rio Mosa.


Reconstrução de um mosassauro, em exibição no Museu
Argentino de Ciências Naturais, em Buenos Aires.














Informações do réptil marinho
Nome: Mosassauro.
Nome cientifico: Mosasaurus.
Tamanho: De 8 à 9 metros de comprimento e 50 centímetros de altura.
Peso: Cerca de 2 toneladas.
Local: No antigo oceano Atlântico, costas da África, Europa e Américas do Norte e Sul.
Época: Período Cretáceo.
Alimentação: Carnívora.
Família: Mosasauridae.


Em um próximo post, voltarei a esse assunto.


Fontes

http://en.wikipedia.org/wiki/SM_U-28_(Germany)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mosassauro

https://noticias.terra.com.br/ciencia/pesquisa/cientista-brasileira-conhecemos-pouco-mais-de-1-dos-oceanos,58d9a38790aea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html