segunda-feira, 12 de setembro de 2016

A Casa do Pedágio - W.W. Jacobs (Parte 3)


Ele olhou rapidamente para a porta. "Pensei ter ouvido alguém", disse, com uma risada envergonhada. "Agora, Lester,vamos subir com ele. Um, dois... Lester! Lester!"

Ele saltou para a frente tarde demais; Lester, com o rosto enterrado em seus braços, rolou no chão, dormindo, e mesmo seus maiores esforços não conseguiram despertá-lo.

"Ele... dormiu", gaguejou. "Dormiu!"

Barnes, que pegara a vela da lareira, ficou olhando para os que dormiam em silêncio, a cera da vela pingando sobre o chão.

"Temos de sair daqui", disse Meagle. "Rápido!"

Barnes hesitou. "Nós não podemos deixá-los aqui..." começou.

"Nós devemos," disse Meagle, em voz estridente. "Se você dormir, eu também...  Rápido! Vamos!"

Ele agarrou o outro pelo braço e se esforçou para arrastá-lo até a porta. Barnes livrou-se dele, e, colocando a vela em cima da lareira, tentou novamente acordar os adormecidos.

"Isso não é bom", disse ele por fim, e, voltando-se a para Meagle. "Você não vai dormir!", disse ele, ansioso.

Meagle sacudiu a cabeça, e puseram-se por algum tempo em silêncio desconfortável. "Devíamos fechar a porta", disse Barnes, finalmente.

Ele cruzou a sala e fechou-a suavemente. Então, após um ruído atrás de si, virou-se e viu Meagle escorado na lareira.


Com uma parada brusca na respiração, ele ficou imóvel. Dentro da sala a vela, com sua luz bruxuleante, mostrou as posições grotescas dos adormecidos. Além da porta sua imaginação parecia revelar uma estranha e furtiva agitação. Ele tentou assobiar, mas seus lábios estavam ressecados, e de forma mecânica inclinou-se e começou a pegar as cartas espalhadas pelo chão.

Parou uma ou duas vezes e ficou com a cabeça inclinada, escutando. A agitação do lado de fora parecia aumentar; um rangido alto soou das escadas.

"Quem está aí?" ele gritou em voz alta.

O ranger cessou. Ele foi até a porta, e, abrindo-a, saiu para o corredor. Enquanto caminhava seus medos o abandonaram de repente.

"Vamos!" ele gritou, com uma risada baixa. "! Todos vocês! Mostrem seus rostos - suas caras feias e infernais! Parem de se esconder!"


Ele riu novamente e avançou; colocou a cabeça para fora como uma tartaruga e ouviu com horror passos se afastando. Quando eles se tornaram inaudíveis na distância, relaxou.

"Bom Deus, Lester, nós o enlouquecemos", disse ele, em um sussurro assustado. "Nós temos que ir atrás dele."

Não houve resposta. Meagle ficou de pé.

"Você escutou?" ele chorou. "Pare de enganar agora, isso é sério. White! Lester! Vocês ouvem!?"

Ele se inclinou e examinou-os com raiva. "Tudo bem", disse ele, com a voz trêmula. "Não vão me assustar, sabiam?"

Ele virou-se e andou com despreocupação exagerado na direção da porta. Foi para fora e olhou pela fresta, mas os adormecidos não se moveram. Ele olhou para a escuridão atrás, e voltou correndo para a sala novamente.

Permaneceu parado por alguns segundos sobre eles, escutando. O silêncio na casa era horrível; ele não poderia mesmo ouvi-los respirar. Com uma resolução repentina, ele pegou a vela da lareira e manteve a chama no dedo de White. Cambaleou para trás estupefato e os passos tornaram-se novamente audíveis.

Ficou com a vela na mão tremendo, escutando. Ouviu-os subir a escada mais longe, mas pararam de repente quando ele foi até a porta. Caminhou um pouco ao longo da passagem e os passos saíram correndo pelas escadas, seguidos por um desbalada carreira no corredor abaixo. Voltou para a escada principal, e cessaram novamente.

Por um tempo, ficou parado perto dos balaústres, ouvindo e tentando enxergar algo na escuridão abaixo; em seguida, lentamente, passo a passo, ele caminhou até o térreo, e, segurando a vela acima da cabeça, olhou o local.

"Barnes!" ele chamou. "Onde está voce?"

Tremendo de medo, ele caminhou ao longo da passagem, e reunindo toda a sua coragem, empurrou as portas e olhou temerosamente as salas vazias. Então, de repente, ele ouviu os passos na frente dele.


Seguiu lentamente com medo de que a vela se apagasse, até que chegou, finalmente, a uma vasta cozinha nua, com paredes úmidas e um piso quebrado. Na frente dele uma porta que dava para um quarto interior tinha acabado de se fechar. Correu em direção a ela e abriu e um ar frio apagou a vela. Ficou horrorizado.

"Barnes!" ele gritou novamente. "Não tenha medo É...  Meagle"

Não houve resposta. Ficou encarando a escuridão com a impressão de que algo por perto o observava. Então, de repente os passos eclodiram em cima novamente.
Recuou às pressas, e, passando pela cozinha, tateou seu caminho ao longo das passagens estreitas. Agora ele podia ver melhor na escuridão, e encontrando-se, por fim, ao pé da escada, começou a subir sem fazer barulho. Chegou ao patamar bem a tempo de ver uma figura desaparecer em uma esquina. Ainda com o cuidado de não fazer nenhum ruído, seguiu o som dos passos até chegar ao andar superior e encurralou o perseguido no final de uma curta passagem.

"Barnes!" ele sussurrou. "Barnes!"

Algo se agitou na escuridão. Uma pequena janela circular no final da passagem amenizou a escuridão e revelou os contornos sombrios de uma figura imóvel. Meagle, em vez de avançar permaneceu imóvel enquanto uma súbita e horrível dúvida se apossou dele. Com os olhos fixos na forma em frente, afastou-se lentamente. A forma avançou sobre ele, que explodiu em um grito terrível.

"Barnes! Pelo amor de Deus! É você?"

O eco de sua voz estremeceu o ar, mas a figura diante dele não prestou atenção. Por um momento  tentou preparar a sua coragem para enfrentar a aproximação mas, em seguida, com um grito sufocado, virou-se e fugiu.

As passagens abriam-se como um labirinto e ele correu às cegas procurando, em vão, as escadas. Se ele pudesse descer e abrir a porta do salão...

Prendeu a respiração em um soluço; os passos tinha recomeçado. Em um trote desajeitado eles ecoavam em cima e embaixo, nas passagens nuas, dentro e fora como se estivesse em busca dele. Entrou em uma pequena sala e ficou atrás da porta esperando. Então saiu e correu rapidamente, procurando não fazer ruído, na direção oposta. Os passos o seguiram. Encontrou o longo corredor e correu ao longo dele em o mais rápido que podia. Sabia que as escadas estavam no final e, com os soando nos seus calcanhares, desceu às cegas. Os passos o alcançaram e ele jogou-se para o lado,  deixando-os passar, ainda continuando sua fuga precipitada. Então, de repente, ele sentiu-se deslizar  no espaço.
Lester acordou de manhã para encontrar a luz do sol fluindo para dentro do quarto, e White sentado e olhando com certa perplexidade para um dedo queimado.

"Onde estão os outros?" perguntou Lester.

"Se foram, eu suponho", disse White. "Devemos ter dormido."

Lester se levantou, e, esticando suas pernas enrijecidas, tirou a poeira de suas roupas e saiu para o corredor. White o seguiu. Ao som de sua aproximação, uma figura que estava dormindo na outra extremidade sentou-se e revelou o rosto de Barnes. "Por que eu dormi?", ele disse, com surpresa. "Eu não me lembro de vir aqui. Como cheguei aqui?"

"Belo lugar para uma sesta", disse Lester severamente, enquanto apontava para a abertura nos balaústres. "Olha lá! Outro lugar onde você poderia ter estado?"

Ele caminhou descuidadamente até a borda e olhou para baixo. Em resposta ao seu grito assustado os outros aproximaram-se, e todos os três ficaram olhando para o homem morto logo abaixo.


FIM

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