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quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Herbert West: Re-Animador ou Os Zumbis de Lovecraft

Lovecraft escrevendo contos sangrentos de zumbis?

Acredite, ele já esteve lá!

Resumindo: Herbert West: Re-animador conta a história de um médico, o Dr. West do título, e suas experiências com a vida e a morte. Defendendo a teoria de que o corpo não passa de uma máquina complexa e que, por isso, pode ser reinicializada quando para de funcionar (morre), o bom doutor desenvolve uma fórmula capaz de trazer os mortos de volta à vida. 

A história é contada por um narrador anônimo, uma espécie de assistente do doutor, mostra os esforços nada éticos para testar e aperfeiçoar a tal fórmula. A cada nova tentativa que se transforma em fracasso, os métodos são modificados, tornando-se mais e mais deturpados. Inicialmente a dupla realiza as experiências em uma fazenda abandonada. Depois disso, partem para o clássico roubo de cadáveres. Um pouco mais a frente, assassinato. Tudo em nome da ciência!

Essa não é uma típica história de H.P. Lovecraft. Aqui ele se afasta do horror cósmico e trata de um tipo de horror mais próximo do clichê. Muitos fãs do escritor odeiam essa história, acusando-a de ser rasa, previsível, grosseira, descerebrada (caramba!). Herbert West seria, segundo essas críticas, nada menos do que uma típica história de Cientista Maluco, aquele sujeito capaz de ferrar com metade do planeta pra provar que sua teoria está correta.

A verdade é que o próprio Lovecraft não gostava dessa história. Não gostou de escrevê-la e não gostou do resultado final.

Aí você pergunta, "por que escreveu então?"

Por um motivo bem simples: dinheiro.

O autor estava passando por sérios problemas financeiros na época e a revista pagou 5 dólares por cada trecho da história, que foi publicada seriadamente. Lovecraft precisava de dinheiro. Ponto.

A forma como a história se estruturou também incomodou bastante o escritor. Era uma exigência que cada capítulo terminasse com um gancho para o próximo (o famoso cliffhanger). Além disso, no começo de cada ato havia uma recapitulação do que acontecer no capítulo anterior. Esse tipo de resgate é útil para quem lê um conto seriado. Mas quando você está devorando o livro, é bem chato. Imagino o porre que foi para escrever.

Apesar de ser execrada por muitos fãs e até pelo próprio autor, essa história term muitos aspectos positivos. Fugindo do seu estilo habitual, Lovecraft escrever uma história sangrenta e com cenas chocantes. A narrativa acaba sendo mais ágil do que o habitual ritmo lovecraftiano e várias reviravoltas acontecem conforme a história avança.

Além disso, o Dr. West é, de longe, o personagem humano mais interessante criado pelo autor. Descrito como um indivíduo franzino, inofensivo e delicado, sua genialidade funciona como motor para sua loucura, o que o torna um dos homens mais perigosos que já habitaram as páginas escritas pelo Cavalheiro de Providence.

Outro ponto: os "reanimados", as pessoas mortas que foram trazidas de volta  à "vida" pelo reagente desenvolvido pelo Dr. West, são os seres que posteriormente conheceríamos como "zumbis: corpos mortos reanimados, dotados de agressividade e selvageria extrema, famintos e incontroláveis.

Em resumo, os fãs puristas podem torcer o nariz, mas Herbert West - Reanimador funciona muito bem como uma história de suspense, terror e horror. Apresenta um conceito interessante onde a ameaça é deslocada para a ciência e não para o sobrenatural. Tem um protagonista marcante. Várias reviravoltas. Sangue aos baldes. E os reanimados!

Ou seja, se a combinação desses fatores te parece interessante, não perca tempo. Aposto que você vai gostar dessa história!




Crédito da imagem: 




sábado, 28 de janeiro de 2017

Contos da Escuridão - Pérola Obscura dos anos 80


Dia desses, garimpando filmes antigos no YouTube, me deparei com uma pérola dos filmes de terror no formato de antologia dos anos 80: Contos da Escuridão (Tales from the Darkside: The Movie; 1990).  Apesar de ter sido lançado nos cinemas em 1990, a linguagem, o clima e os sustos são bem anos 80, na melhor forma possível.

Então, sem mais delongas, vamos falar sobre esse clássico obscuro.







O FILME

O nome é baseado em um seriado de histórias de terror, fantasia e ficção científica que foi ao ar entre 1983 e 1988 na televisão americana. Cada episódio era uma história independente, que geralmente terminava com uma reviravolta no enredo (plot twist).

O filme é organizado na forma de antologia. Três histórias são contadas e existe uma quarta que serve para ligar as demais. As três histórias são basicamente bem diferentes por um motivo bem especial: cada uma delas foi baseada no conto de um escritor.  Ou seja, não espere o susto pelo susto, com desfiles de monstros e enredo inexistente... as histórias aqui são obras de mestres.

A HISTÓRIA DE LIGAÇÃO

O filme começa com uma senhora chegando em casa ("Debbie" Harry, ela mesma, vocalista do Blondie, ex-namorada de Joey Ramone e atriz de diversos filmes). Descobrimos que ela mantém preso em sua dispensa um menino (Matthew Lawrence, que mais tarde faria "Uma Babá quase Perfeita) e que seus planos incluem o garoto como prato principal.

Essa parte faz uma referência a João e Maria, os irmãos que também eram o sonho de consumo culinário de uma certa bruxa...



Disposto a ganhar tempo, o pirralho começa a ler alguns contos de um livro que ela tinha deixado para ele. Esse é o gancho para a apresentação das demais histórias.

Gosto muito da Debbie, mas revendo esse filme tenho a impressão de que ela estava sob efeito de anestésicos quando gravou suas cenas.







LOTE 249

 Baseado em um conto de Sir Arthur Conan Doyle (o criador de Sherlock Holmes), esse foi considerado por muitos críticos como segmento mais fraco.  Eu discordo. Não dá pra desmerecer um segmento que tem Steve Buscemi como vilão, mesmo que um pouco caricato.  Não consigo assistir esse filme sem pensar que ele tem algum parentesco com Herbert West, o Re-Animador (Re-Animator), personagem de H.P. Lovecraft. Os dois tem muito em comum: estudantes solitários, esquisitões e brilhantes... só que...

O filme mostra o universitário Andy (Christian Slater, que consegue empregar sua canastrice ao personagem de forma hilária) às voltas com uma questão delicada: sua irmã Susan (Moore ainda novinha no cinema mas fazendo muito bem o papel de uma cretina diplomada) e seu namorado Lee (Robert Sedgwick, boa sorte procurando a filmografia dele) passaram outro aluno para trás para conseguirem uma cobiçada bolsa estudantil.


Acontece que o aluno enganado, Bellingham (Steve Buscemi), não fica muito satisfeito e, sabendo da mutreta, arma sua vingança. E como ele faz isso? Com estilo "C.D.F. do mal"!


Através de um antigo encantamento, ele reanima uma múmia que adquiriu recentemente (o lote de número 249 do título) para que o monstro se vingue de seus desafetos.

Cabe a Andy tentar enfrentar o seu colega e por um fim na história toda.





Gosto muito desse segmento pelo clima de suspense. A dinâmica dos acontecimentos se sobrepõe criando aos poucos, mas sem enrolar demais, uma aura de apreensão. Em tempos de filmes com jumpscares a cada 15 minutos, é a típica situação que devia ser valorizada.

Um pequeno parêntese: O conto foi escrito em 1892. Apesar do filme ser ambientado em uma época mais contemporânea, a compra da múmia, algo não tão incomum em 1892, foi mantida. 

GATO DO INFERNO

Adaptado de um conto de Stephen King, esse segmento tem um ar mais sombrio e sempre me fez pensar nos antigos filmes de mistério da Hammer.



Um homem "muito profissional" chega a uma mansão isolada em uma noite escura e assustadora. Ele tem uma reunião de negócios com o Sr. Drogan (William Edward Hickey), um homem idoso em cadeira de rodas, agora o único morador da mansão.

Drogan, o milionário dono de uma indústria farmacêutica, quer contratar os serviços de Halston (David Johansen, que além de ator e compositor, foi um dos membros fundadores da banda de rock New York Dolls, uma das preferidas dos... Ramones!) como assassino profissional para se livrar de uma vítima no mínimo inusitada: um gato preto que também habita a mansão. Pelo serviço ele receberá $ 100.000,00 (cem mil dólares!!!!).

Drogan conta ao assassino que o gato, apesar de parecer inocente, foi o responsável pela morte de três pessoas que moravam naquela mansão.

Claro que, pela moleza do serviço, o assassino aceita.

Trouxa!

VOTOS DE AMOR

A terceira história é baseada em um autor pouco conhecido no Brasil (pelo menos eu nunca tinha ouvido falar nele e fui salvo pela Wikipedia ao escrever essa postagem...): Lafcadio Hearn ou Koizumi Yakumo, escritor com nacionalidade Grega e Irlandesa.  Esse conto dele é baseado em uma lenda japonesa popular, a Yuki-onna.



Preston (James Remar, um cara que praticamente só recebe papel de vilões em tudo que é filme que faz), escultor, está em pleno inferno astral: seu agente dá um pé na sua bunda, suas obras perdem espaço na galeira e ele está devendo rios de dinheiro. Pra completar seu infortúnio, ao voltar para casa depois de uma sessão de bebedeiras presencia algo macabro: um monstro mata um homem em um beco escuro e diz que poupará a vida do artista se ele não contar nada. Claro que o artista aceita e, com medo de que o mostrão mude de ideia, sai correndo dali.

Na mesma noite ele conhece a bela Carola (Rae Dawn Chong, que explodiu um carro da polícia com uma bazuca em Comando Para Matar) e eles acabam tendo um relacionamento duradouro. Se casam, tem filhos, as obras dele começam a fazer sucesso. E então, anos depois, ele resolve que deve contar o que aconteceu naquela noite à esposa.

Aguarde o final.

E depois disso tudo temos o final da história de ligação.

Claro que depois de tantos anos o filme envelheceu. Claro que os efeitos especiais, pra uma platéia acostumada à bizarrice do C.G.I., podem parecer pueris.  Mas se você estiver procurando um terror divertido, para ver com amigos num encontro ou mesmo aproveitar uma noite do tipo "edredom e pipoca", pode tentar esse aqui sem medo de errar.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Noite dos Arrepios - Clássico B

Noite dos arrepios, de 1986, é um daqueles filmes que eu gosto tanto que um post só não vai ser suficiente.

Então esse é o "1 de 2"  sobre essa pérola do cinema da década de 1980 e cult eterno dos filmes B.






Nesse primeiro post vou falar um pouco sobre o enredo do filme (sem spoillers) e recomendar o por quê é um filme interessantíssimo para os amantes de filmes de terror antigos. No segundo post vou analisar os elementos e, claro, acabar dando vários spoillers...

Então, lá vai.

Noite dos Arrepios

Título Original: Night of the creeps
Ano de lançamento: 22 de agosto de 1986
Direção: Dekker
Roteiro: Geof Miller, Lewis Abernathy


Elenco
 
  • Jason Lively ... Christopher 'Chris' Romero
  • Steve Marshall ... James Carpenter 'J.C.' Hooper
  • Jill Whitlow ... Cynthia 'Cindy' Cronenberg
  • Tom Atkins ... Det. Ray Cameron
  • Wally Taylor ... Det. Landis
  • Bruce Solomon ... Det. Sgt. Raimi
  • Vic Polizos ...   Legista
  • Allan Kayser ... Brad
  • Ken Heron ... Johnny
  • Alice Cadogan ... Pam
  • June Harris ... Karen
  • David Paymer ... Cientista do Laboratório do Campus
  • David Oliver ... Steve
  • Evelyne Smith ... Monitora
  • Ivan E. Roth ... Maníaco Fugitivo



  • "Não sei quem fui..."
    Chris e J.C. são dois estudantes universitários no estilo "deslocado" dos anos 80. Não são do tipo atlético e pelas escolhas que fazem ao longo do filme também não são os mais espertos... mas são gente boa.



    Durante uma festa na Universidade Corman, com muitas mulheres bonitas passando pra lá e pra cá, Chris se interessa por uma aluna (Cindy).  



    Como os dois são uma dupla de Zé Manés, resolvem que a melhor maneira de impressionar a gata é entrar para uma das fraternidades do Campus, os Betas.

    O líder dos Betas, (o panaca mauricinho típico vilão de meia tigela dos anos 80) Brad, diz que eles precisam  realizar um "ato de devoção" para provarem sua lealdade à fraternidade: roubar um cadáver do departamento de anatomia da universidade e jogá-lo na frente da casa da fraternidade adversária, os Alfas.

    Muito laquê!
    Durante a missão, algo sai muito errado: o cadáver mostra não estar tão morto assim e os dois saem de lá correndo.

    Esse é o começo de uma série de acontecimentos bizarros no Campus.

    Como diz o Detetive Cameron lá pela metade do filme, na versão dublada primorosamente  pela voz do grande José Santa Cruz:

    "Zumbis... cabeças explodindo... coisas rastejantes... e um encontro pro baile.  É um clássico, Graúna."

    Mito!
    "Tenho boas e más notícias..."

    Por que vale a pena ver:

    Além de ser uma homenagem aos filmes B dos anos 50, várias citações deixam o filme com um ar de estudo cinematográfico, cheio de referências geniais. Uma parte do filme, inclusive, é filmada não apenas em preto e branco, mas com toda ambientação, roupas, acessórios e músicas da década de 50.

    O nome da faculdade do filme, Universidade Corman, é uma homenagem à Roger Corman. Os nomes de vários personagens do filme fazem referência a outros diretores de filmes de terror, ficção, etc. Temos George A. Romero, James Carpenter, Tob Hooper, David Cronenberg, James Cameron, Sam Raimi.

    O Detetive Cameron é uma citação em carne e osso dos detetives durões de filmes policiais noir. Pra confirmar mais ainda isso, nas cenas em sua casa podemos ver dois livros dos mestres/criadores desse gênero, Samuel Dashiel Hammet e Raymond Chandler na sala do detetive.