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sábado, 28 de janeiro de 2017

Contos da Escuridão - Pérola Obscura dos anos 80


Dia desses, garimpando filmes antigos no YouTube, me deparei com uma pérola dos filmes de terror no formato de antologia dos anos 80: Contos da Escuridão (Tales from the Darkside: The Movie; 1990).  Apesar de ter sido lançado nos cinemas em 1990, a linguagem, o clima e os sustos são bem anos 80, na melhor forma possível.

Então, sem mais delongas, vamos falar sobre esse clássico obscuro.







O FILME

O nome é baseado em um seriado de histórias de terror, fantasia e ficção científica que foi ao ar entre 1983 e 1988 na televisão americana. Cada episódio era uma história independente, que geralmente terminava com uma reviravolta no enredo (plot twist).

O filme é organizado na forma de antologia. Três histórias são contadas e existe uma quarta que serve para ligar as demais. As três histórias são basicamente bem diferentes por um motivo bem especial: cada uma delas foi baseada no conto de um escritor.  Ou seja, não espere o susto pelo susto, com desfiles de monstros e enredo inexistente... as histórias aqui são obras de mestres.

A HISTÓRIA DE LIGAÇÃO

O filme começa com uma senhora chegando em casa ("Debbie" Harry, ela mesma, vocalista do Blondie, ex-namorada de Joey Ramone e atriz de diversos filmes). Descobrimos que ela mantém preso em sua dispensa um menino (Matthew Lawrence, que mais tarde faria "Uma Babá quase Perfeita) e que seus planos incluem o garoto como prato principal.

Essa parte faz uma referência a João e Maria, os irmãos que também eram o sonho de consumo culinário de uma certa bruxa...



Disposto a ganhar tempo, o pirralho começa a ler alguns contos de um livro que ela tinha deixado para ele. Esse é o gancho para a apresentação das demais histórias.

Gosto muito da Debbie, mas revendo esse filme tenho a impressão de que ela estava sob efeito de anestésicos quando gravou suas cenas.







LOTE 249

 Baseado em um conto de Sir Arthur Conan Doyle (o criador de Sherlock Holmes), esse foi considerado por muitos críticos como segmento mais fraco.  Eu discordo. Não dá pra desmerecer um segmento que tem Steve Buscemi como vilão, mesmo que um pouco caricato.  Não consigo assistir esse filme sem pensar que ele tem algum parentesco com Herbert West, o Re-Animador (Re-Animator), personagem de H.P. Lovecraft. Os dois tem muito em comum: estudantes solitários, esquisitões e brilhantes... só que...

O filme mostra o universitário Andy (Christian Slater, que consegue empregar sua canastrice ao personagem de forma hilária) às voltas com uma questão delicada: sua irmã Susan (Moore ainda novinha no cinema mas fazendo muito bem o papel de uma cretina diplomada) e seu namorado Lee (Robert Sedgwick, boa sorte procurando a filmografia dele) passaram outro aluno para trás para conseguirem uma cobiçada bolsa estudantil.


Acontece que o aluno enganado, Bellingham (Steve Buscemi), não fica muito satisfeito e, sabendo da mutreta, arma sua vingança. E como ele faz isso? Com estilo "C.D.F. do mal"!


Através de um antigo encantamento, ele reanima uma múmia que adquiriu recentemente (o lote de número 249 do título) para que o monstro se vingue de seus desafetos.

Cabe a Andy tentar enfrentar o seu colega e por um fim na história toda.





Gosto muito desse segmento pelo clima de suspense. A dinâmica dos acontecimentos se sobrepõe criando aos poucos, mas sem enrolar demais, uma aura de apreensão. Em tempos de filmes com jumpscares a cada 15 minutos, é a típica situação que devia ser valorizada.

Um pequeno parêntese: O conto foi escrito em 1892. Apesar do filme ser ambientado em uma época mais contemporânea, a compra da múmia, algo não tão incomum em 1892, foi mantida. 

GATO DO INFERNO

Adaptado de um conto de Stephen King, esse segmento tem um ar mais sombrio e sempre me fez pensar nos antigos filmes de mistério da Hammer.



Um homem "muito profissional" chega a uma mansão isolada em uma noite escura e assustadora. Ele tem uma reunião de negócios com o Sr. Drogan (William Edward Hickey), um homem idoso em cadeira de rodas, agora o único morador da mansão.

Drogan, o milionário dono de uma indústria farmacêutica, quer contratar os serviços de Halston (David Johansen, que além de ator e compositor, foi um dos membros fundadores da banda de rock New York Dolls, uma das preferidas dos... Ramones!) como assassino profissional para se livrar de uma vítima no mínimo inusitada: um gato preto que também habita a mansão. Pelo serviço ele receberá $ 100.000,00 (cem mil dólares!!!!).

Drogan conta ao assassino que o gato, apesar de parecer inocente, foi o responsável pela morte de três pessoas que moravam naquela mansão.

Claro que, pela moleza do serviço, o assassino aceita.

Trouxa!

VOTOS DE AMOR

A terceira história é baseada em um autor pouco conhecido no Brasil (pelo menos eu nunca tinha ouvido falar nele e fui salvo pela Wikipedia ao escrever essa postagem...): Lafcadio Hearn ou Koizumi Yakumo, escritor com nacionalidade Grega e Irlandesa.  Esse conto dele é baseado em uma lenda japonesa popular, a Yuki-onna.



Preston (James Remar, um cara que praticamente só recebe papel de vilões em tudo que é filme que faz), escultor, está em pleno inferno astral: seu agente dá um pé na sua bunda, suas obras perdem espaço na galeira e ele está devendo rios de dinheiro. Pra completar seu infortúnio, ao voltar para casa depois de uma sessão de bebedeiras presencia algo macabro: um monstro mata um homem em um beco escuro e diz que poupará a vida do artista se ele não contar nada. Claro que o artista aceita e, com medo de que o mostrão mude de ideia, sai correndo dali.

Na mesma noite ele conhece a bela Carola (Rae Dawn Chong, que explodiu um carro da polícia com uma bazuca em Comando Para Matar) e eles acabam tendo um relacionamento duradouro. Se casam, tem filhos, as obras dele começam a fazer sucesso. E então, anos depois, ele resolve que deve contar o que aconteceu naquela noite à esposa.

Aguarde o final.

E depois disso tudo temos o final da história de ligação.

Claro que depois de tantos anos o filme envelheceu. Claro que os efeitos especiais, pra uma platéia acostumada à bizarrice do C.G.I., podem parecer pueris.  Mas se você estiver procurando um terror divertido, para ver com amigos num encontro ou mesmo aproveitar uma noite do tipo "edredom e pipoca", pode tentar esse aqui sem medo de errar.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A Casa dos 7 Mortos - Filme B (2 de 2)


... Continuando de onde parei...

Quando estão andando pela casa, o galã encontra uma porta que leva para um quarto secreto, repleto de itens de magia negra. Dave acha um livro chamado Livro Tibetano dos Mortos. E tem a brilhante ideia de usá-lo nas filmagens, para dar mais veracidade às filmagens.


Um aparte sobre o tal livro. Não convence... não dá pra acreditar que apenas algumas palavras recitadas por um dos atores trouxesse o horror pra acabar com eles. Talvez fosse mais crível se, além das palavras, algumas práticas fossem retiradas do livro e encenadas. Por mais que hoje em dia essa seja uma ideia utilizada à exaustão, talvez fosse uma modificação que contribuísse para o filme.  Sem contar com o próprio nome do livro...  "Livro Tibetano dos Mortos"... ah, por favor...  Por que não fizeram uma pesquisa um pouco mais aprofundada em literatura proibida e utilizaram algo mais impactante...  o Necronomicon, ou o Des Vermis Misteriis,  ou, já que o zumbi é chamado de "Ghoul", por que não usar o Cultes des Goules????

Continuando...

O zelador é meio que o red herring do filme (arenque vermelho, ou arenque defumado, é um termo utilizado para indicar uma pista falsa. O nome vem da estratégia usada por criminosos perseguidos por cães farejadores: esfregar arenque defumado no seu rastro para que o cheiro forte confunda os cachorros). Algumas situações levam a crer que o sr. Price é algum tipo de ente sobrenatural. O casalzinho Anna e Dave chegam a vê-lo entrando em um dos túmulos do cemitério.  

Churrasco de gato do inferno!

Lá pelas tantas, o gato de Gayle some. Ele só é encontrado no dia seguinte. Quer dizer, é mais ou menos encontrado. Alguém retalhou o bicho e só acham a parte da frente dele. Claro que o diretor vai tirar satisfações com o Cara Sinistro local, o sr. Price. No meio do processo ele afana, na cara de pau, um revólver que o senhor Price tinha guardado. Aí acontece uma conversa dos dois no subsolo da casa do Price... Basicamente não entendi muita coisa mas, pelo pouco que eu entendi, ele faz lápides para o cemitério...  mas pra quê? Em certa hora do filme ele diz que existe um túmulo vazio no cemitério... a finada patroa dele pediu isso. Mas pra quê????

As filmagens continuam. O livro é finalmente usado em uma cena. Na hora em que estão filmando, Dave some (suspeito... muito suspeito...). Enquanto a filmagem continua, o sr. Price, que está lendo um livro em sua casa (provavelmente Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas), escuta um som estranho vindo do cemitério e vai investigar.


"Desculpe querida... estou meio morto..."
Aí realmente a coisa fica confusa. A mão do defunto reanimado pelo ritual da filmagem sai da terra com uma lerdeza absurda. E mesmo assim ele consegue agarrar a perna - ou a barra da calça, não sei - do senhor Price. Conseguiram fazer uma cena lenta ser confusa. Como se alternam as imagens da filmagem - com a reanimação de um cadáver também, que criativo - com o que está acontecendo no filme, do nada já vemos o tal zumbi agarrado no pescoço do sr. Price.


 
Com a morte do sr. Price e o fim das filmagens, começam a empacotar as coisas. Essa tem, pra mim, uma das cenas que mais me assustaram durante a infância. Vemos as sombras de uma árvore balançando para, em seguida, surgir a sombra do zumbi avançando lentamente.

Ponto positivo: o  tal zumbi, ou ghoul nos créditos originais, não é mostrado logo de cara... bom, quer dizer, se você ignorar a imagem da caroncha dele no começo do filme. Agora fiquei na dúvida se dou um ponto ou se tiro um ponto.... enfim... vou considerar um ponto positivo.


Sempre achei esse Zumbi parecido com o Kiko.



O ponto negativo é a velocidade com que o zumbi se move. Eu cronometrei: logo de cara ele demora cerca de 40 segundos para percorrer uma distância de mais ou menos 4 metros, o que dá um metro percorrido a cada 10 segundos...
Logo de cara, mesmo com sua falta de velocidade , o zumbi mata logo 3. Um encurralado no caminhão de equipamentos e dois na sala onde filmavam. Sorte que um ficou esperando assustado enquanto o outro era esganado...

Gayle está esperando o diretor pra dar umas bitocas nele, mas que aparece é o defunto.  Como ela acabou de se perfumar e sente a catinga que o zumbi deve emitir, sai correndo dali. Pra dar mais aquele ar de filme de terror, ela cai na escada, mas se levanta e continua correndo. Vai pro quarto e pega a arma do diretor (cara, eu nem sabia que eles dormiam juntos ou que ela sabia da arma!). Só que na hora de meter uma azeitona no bicho feio, ela atira num colega de filmagem, o coitado do blablabla. Só depois de descarregar todos os tiros ela percebe que atirou errado. Fica tão chocada que entra de ré num quarto onde o zumbi a espera literalmente de braços abertos...

As roupas no varal!!!!
Anne escuta os tiros quando está tomando banho. Sai de toalha mesmo e encontra Gayle enforcada. Aí começa a gritar e cai... Até hoje  não sei se desmaiada ou morta.  Mas como posteriormente ela é encontrada no rio, acho que só desmaiou...








Enquanto isso o diretor e Dave estão fazendo uma tomada final no cemitério. Acabam encontrando o corpo do sr. Price. Dave mostra um tumulo vazio para o diretor e do nada começam a brigar. O diretor dá um golpe em Dave e o joga dentro da cova vazia. Enquanto está ali deitado ele resolve dar uma lida no que está escrito no túmulo vazio.
Aí o filme começa a abusar...

Ele lê a inscrição: "David... 1872-1896". Nessa mesma hora a mão de David emerge do túmulo... ele virou um zumbi!!!!

O diretor cai no meio do caminho quando fugia pra mansão e fica deitado no chão desacordado tempo suficiente pro zumbi chegar mais perto... mas ele acaba nem chegando. Pra você ver como ele também é lerdo.

Taca na mãe pra ver se quica!
Quando chega na casa ele vai encontrando todo mundo morto. Pra piorar, e o que deixa ele mais desesperado, alguém destruiu o filme todo do cara.  Enquanto grita desesperado, aparece o zumbi 1 e joga uma câmera em cima do diretor. Uma coisa é preciso reconhecer: essa foi uma morte bem original...


Uma montagem com as mortes dos Beal e do pessoal da filmagem é mostrada, meio que forçando uma associação entre as mortes do passado que se repetem. Mas levando em conta que os primeiros que morreram foram enforcados pelos zumbi, que similaridade é essa?

A cena final mostra o zumbi David encontrando o cadáver de Anne boiando sob uma ponte. Ele a pega nos braços e sai andando com ela. O amor é lindo! Ele entra na cova, ainda com Anne nos braços. É mostrada a placa com a inscrição do nome dele - eu imagino que fosse, porque nem é um close - e o filme termina deixando você com cara de tacho.

Scooby-dooby-doo!
Então... tipo... David era um zumbi o tempo todo e os trouxe pra lá pra morrerem... ou então ele virou um zumbi porque combinou a leitura do livro com ter caído na cova...

O zumbi 1 matou Anne jogando a coitada desmaiada no rio?

Quem afinal de contas matou o gato e por quê?

E pra que a cova vazia?







Essas e outras perguntas provavelmente nunca serão respondidas. Com essa febre de refilmagens que assola o cinema, talvez logo logo alguém resolva refilmar essa pérola desconhecida dos filmes B. E espero que dessa vez utilizem um pouco de massa corrida para tapar os buracos do roteiro.

De qualquer forma, esse filme é uma porcaria em vários níveis. Mas é um daqueles que valem a pena uma conferida.


A Casa dos 7 Mortos - Filme B (1 de 2)


Quando você é criança, qualquer filme de terror pode ser bem assustador,  ponto de fazer você fechar os olhos e ainda colocar as mãos por cima pra garantir. No meu caso, o filme de terror que mais me aterrorizou quando eu era pequeno não resisti ao olhar de um adulto.  Bom, quase...


O filme, dos anos 70, era uma das pérolas do SBT, um daqueles filmes que passavam tanto que a fita provavelmente estava a ponto de furar. O filme era presença garantida no Cinema em Casa, Festival de Filmes do SBT, Sabadocine, Oito e Meia no Cinema, Fim de Noite, Duas Sessões, Sessão Premiada, Quinta no Cinema, Sexta no Cinema e na lendária Sessão das Dez (que nunca começava antes de 22h30). Acho que ele só escapou de passar no Cine Disney...


Pôster Incrível!
Para escrever essa postagem, acabei revendo o filme inteiro. Por sorte alguém botou no Youtube uma versão gravada direto da Sessão das 10. Pelo menos a dublagem naquele tempo era uma coisa de qualidade...

E como o cérebro humano é uma coisa engraçada: por mais piadas que eu mesmo já tenha feito sobre todos as crateras no roteiro do filme, rever essa porcaria me fez sentir um pouco o que eu senti quando vi pela primeira vez esse filme. Medo.  Lá no fundo da mente algum arquivo empoeirado foi aberto, e de dentro saiu uma pasta com as emoções que circularam pela minha mente quando eu era só um moleque de 9 anos.

O enredo do filme não é dos piores:

Uma equipe de cinema está filmando em uma casa onde sete assassinatos foram cometidos. O zelador, o incrivelmente sinistro Sr. Price (John Carradine, incrivelmente sinistro) adverte o diretor Eric Hartman (o mítico John Ireland) que eles não devem mexer com coisas que eles não entendem (os tais sete assassinatos tinham relação com práticas ocultistas). O diretor ignora os avisos por querer ser o mais autêntico possível e orienta seu elenco a reencenar os rituais que ocorreram na casa. Acabam invocando um zumbi do cemitério que fica próximo da casa.
 
Bom, como eu disse, a ideia não é tão ruim. O problema mesmo é a maneira como o filme é conduzido.

Só pra avisar, daqui pra baixo vou encher de spoilers.  Não dá pra falar dos acertos (poucos ) e erros (muitos) desse filme sem falar muito sobre o que acontece no filme.

A ideia vem do básico do cinema de horror: um grupo de pessoas em um local antigo e afastado da civilização são confrontados com uma situação que envolve forças ocultas. Horror gótico em seu estado mais puro: uma mansão assombrada, um zelador sinistro, um gato chato...

Aliás, falando em Mansão Assombrada... a casa usada para a filmagem é a mansão do Governador de Utah, em Salt Lake City (EUA). Que lugarzinho mais macabro...
 
Mas que lugar macabro...
 
Brincadeira, pessoal. A mansão mesmo até que é bem bonitinha... Ponto para o pessoal do filme, que conseguiu achar o enquadramento e a iluminação adequados para transformar um prédio oficial em uma mansão de pesadelo.

 
Mas que lugar agradável!


 O filme começa com a morte de todos os membros da tal família Beal. Um é jogado do alto de uma escada, uma aparece afogada na banheira, um leva alguns tiros, uma surge enforcada, um toma uma série de porradas na cabeça, um é esfaqueado, um aparece afogado... essa cena inicial mais movimentada contrasta com o resto do filme, que se desenvolve muito mais mostrando as mazelas de uma equipe de cinema filmando com um diretor tirânico e estressado.


Fala a verdade... Não parece um daqueles filmes baseados na obra de Nelson Rodrigues?



Mas pelo menos o casal mais velho tem uma química melhor do que o casal jovem. É uma química em desequilíbrio constante, mas pelo menos tem algumas ligações covalentes...





Voltando ao filme: Aparentemente, ao longo dos anos, todos o membros dessa família fizeram pactos terríveis, venderam suas almas e tiveram mortes horríveis e violentas (Bom, levando em conta os tipos de mortes atuais nos filmes, não tão horríveis... ). Quando você para pra pensar sobre isso fica a pergunta: "Cara, será que nenhum deles pensou que fazer o tal ritual/vender sua alma não era lá uma coisa tão boa?"  O lema da família deveria ser "Repetir, repetir, repetir até ficar diferente." - Manoel de Barros.

Mas, enfim...

Após a morte dos membros da família, vemos uma mulher fazendo um ritual no melhor estilo cinema anos 70: ela diz algumas palavras de frente para um círculo desenhado no chão. De repente um rosto aparece no círculo.  É o rosto do zumbi que vai aparecer mais tarde e sair matando todo mundo do filme (Upsie! spoiler...). A mulher, por algum motivo, começa a gritar ~coisas tipo "Não! Vá embora!". Esse aí já é a primeira coisa sem explicação no filme. Logo em seguida é revelado que era tudo uma parte da filmagem. Se era uma parte da filmagem, por que o rosto do monstro apareceu no centro do círculo? Não era efeito especial da filmagem, não foi resultado do ritual, mas também não foi uma alucinação da atriz... então, por que o bicho apareceu? Ninguém menciona mais isso no filme...  Não tente entender.

Bem vindos à Casa do Terror...
A filmagem é interrompida pelo sinistro zelador da propriedade, o senhor Bóris Price. Durante a filmagem de uma cena de assassinato ele diz "Não foi assim que aconteceu!"

Conforme o sinistro zelador anda pela casa, mostrando as pinturas a óleo dos antigos moradores da casa e falando sobre suas mortes misteriosas, somos apresentados aos outros autores do filme:

- O tirânico diretor Eric Hartman, dono de um temperamento irascível e de uma língua afiada, está preocupado com suas filmagens e se dispõe tirar o melhor de sua equipe para terminar seu filme com qualidade, nem que para isso tenha que encher os pobres bastardos de porradas verbais (interpretado com brio pelo excelente ator veterano John Ireland, que participou, entre outras coisas, dos clássicos Spartacus e Rio Vermelho).

- Gayle Dorian, a estrela da filmagem. Ao longo do filme ficamos sabendo que ela já foi uma estrela de primeira grandeza, mas com a idade os papéis começaram a rarear e ela tem que se submeter a participar de filmes de quinta categoria - acaba sendo uma piada interna com o próprio filme. Ela também já teve algum tipo de rolo com o diretor. Ah, sim... ela possui um gato que tem nome de gata... Cléo.  (Gayle é interpretada por Faith Domergue [1924-1999], que também participou de vários filmes e era uma boa atriz. Infelizmente esse terror "classe C" foi seu último filme).
David (ou Dave para os íntimos) - Aparentemente o assistente do diretor, mas também faz uma ponta como um cara que é esfaqueado nas filmagens. Foi ele quem encontrou a mansão para as filmagens e parece ser o braço direito do diretor... segue o chefe pra todo lado como um cachorro. Ele tem algum rolo com Anne, a beldade feminina do filme. Interpretado por Jerry Strickler.

Anne - A típica mocinha de filme de terror. Fica o filme todo assustada ou mendigando a atenção do namorado/peguete/seja lá o que for David, que prefere ficar lendo o livro que achou na mansão... Esse David deve estar morto... (hehehe). Interpretada por Carole Wells.

 - Christopher Millan   - O galã da filmagem. Está sempre penteando o bigode e passando a mão pelos cabelos negros e fartos. Ele é o que participa ativamente do primeiro plot twist do filme: ao entrar em seu quarto depois da noite de filmagens, tira o bigode e a peruca.  Wow! (interpretado por Charles Macaulay, um medalhão do cinema. Cara gente boa, participou de alguns episódios de Jornada nas Estrelas inclusive).

E é isso. Existem mais outros tantos atores no filme, mas eles estão lá só pra ser mortos. Uma exceção, que só vou considerar por que sei lá, é o tal de Ron, o maquiador das filmagens e que por duas ou três vezes tenta ser o alívio cômico do filme. O problema é que ele é engraçado como um garoto de 9 anos. Os outros ficam pra lá e pra cá, montando cabos e carregando coisas.
Ou seja, desenvolvimento de personagens nota zero. O diretor é o tirano caricato, a estrela decadente acaba sendo seu amor bandido, o galã do filme fica fazendo monólogos como se estivesse em apresentações teatrais do nada, Dave realmente não se define e fica o tempo todo pra lá e pra cá com o tal livro embaixo do braço e Anne é praticamente Salsicha e Scooby Doo em uma mesma pessoa.

Nessa cena temos 4 atores e 2 figurantes.



A postagem estava ficando muito grande, então....

Continua.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Noite dos Arrepios - Clássico B

Noite dos arrepios, de 1986, é um daqueles filmes que eu gosto tanto que um post só não vai ser suficiente.

Então esse é o "1 de 2"  sobre essa pérola do cinema da década de 1980 e cult eterno dos filmes B.






Nesse primeiro post vou falar um pouco sobre o enredo do filme (sem spoillers) e recomendar o por quê é um filme interessantíssimo para os amantes de filmes de terror antigos. No segundo post vou analisar os elementos e, claro, acabar dando vários spoillers...

Então, lá vai.

Noite dos Arrepios

Título Original: Night of the creeps
Ano de lançamento: 22 de agosto de 1986
Direção: Dekker
Roteiro: Geof Miller, Lewis Abernathy


Elenco
 
  • Jason Lively ... Christopher 'Chris' Romero
  • Steve Marshall ... James Carpenter 'J.C.' Hooper
  • Jill Whitlow ... Cynthia 'Cindy' Cronenberg
  • Tom Atkins ... Det. Ray Cameron
  • Wally Taylor ... Det. Landis
  • Bruce Solomon ... Det. Sgt. Raimi
  • Vic Polizos ...   Legista
  • Allan Kayser ... Brad
  • Ken Heron ... Johnny
  • Alice Cadogan ... Pam
  • June Harris ... Karen
  • David Paymer ... Cientista do Laboratório do Campus
  • David Oliver ... Steve
  • Evelyne Smith ... Monitora
  • Ivan E. Roth ... Maníaco Fugitivo



  • "Não sei quem fui..."
    Chris e J.C. são dois estudantes universitários no estilo "deslocado" dos anos 80. Não são do tipo atlético e pelas escolhas que fazem ao longo do filme também não são os mais espertos... mas são gente boa.



    Durante uma festa na Universidade Corman, com muitas mulheres bonitas passando pra lá e pra cá, Chris se interessa por uma aluna (Cindy).  



    Como os dois são uma dupla de Zé Manés, resolvem que a melhor maneira de impressionar a gata é entrar para uma das fraternidades do Campus, os Betas.

    O líder dos Betas, (o panaca mauricinho típico vilão de meia tigela dos anos 80) Brad, diz que eles precisam  realizar um "ato de devoção" para provarem sua lealdade à fraternidade: roubar um cadáver do departamento de anatomia da universidade e jogá-lo na frente da casa da fraternidade adversária, os Alfas.

    Muito laquê!
    Durante a missão, algo sai muito errado: o cadáver mostra não estar tão morto assim e os dois saem de lá correndo.

    Esse é o começo de uma série de acontecimentos bizarros no Campus.

    Como diz o Detetive Cameron lá pela metade do filme, na versão dublada primorosamente  pela voz do grande José Santa Cruz:

    "Zumbis... cabeças explodindo... coisas rastejantes... e um encontro pro baile.  É um clássico, Graúna."

    Mito!
    "Tenho boas e más notícias..."

    Por que vale a pena ver:

    Além de ser uma homenagem aos filmes B dos anos 50, várias citações deixam o filme com um ar de estudo cinematográfico, cheio de referências geniais. Uma parte do filme, inclusive, é filmada não apenas em preto e branco, mas com toda ambientação, roupas, acessórios e músicas da década de 50.

    O nome da faculdade do filme, Universidade Corman, é uma homenagem à Roger Corman. Os nomes de vários personagens do filme fazem referência a outros diretores de filmes de terror, ficção, etc. Temos George A. Romero, James Carpenter, Tob Hooper, David Cronenberg, James Cameron, Sam Raimi.

    O Detetive Cameron é uma citação em carne e osso dos detetives durões de filmes policiais noir. Pra confirmar mais ainda isso, nas cenas em sua casa podemos ver dois livros dos mestres/criadores desse gênero, Samuel Dashiel Hammet e Raymond Chandler na sala do detetive.