segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Tubarão: Monólogo de Quint

Existem aquelas frases que serão eternamente associados a um personagem e um filme.


“No, I am your father” 
“Não, eu sou seu pai”
Star Wars – O Império Contra-Ataca
“I’ll be back” 
“Eu vou voltar”
 Exterminador do Futuro (Terminator) (a série toda)
 “Go ahead. Make my day” 
“Vai em frente. Complete meu dia”
 Perseguidor Implacável (Dirty Harry)


“Hello. I want to play a game”
 “Olá. Eu quero jogar um jogo”
Jogos Mortais

“Why so serious?”
Por que está tão sério?
Batman, O Cavaleiro das Trevas


E existem frases e monólogos capazes de definir um personagem. Uma história contada que estabelece a motivação e a participação do personagem naquela história, que nos mostra o que fez dele o que ele é.

Agora, imagine que esse monólogo faça referência a um acontecimento real e, certamente, bem perturbador?

Toda vez que eu penso nisso lembro do "monólogo de Quint", o personagem de Robert Shaw no filme Tubarão (Jaws, 1975). O caçador de tubarões profissional (casca grossa e insano) que oferece seus serviços para acabar com o tubarão que assombra a ilha de Amity.

É um filme que eu sempre gostei:  oceano assustador e um monstro gigante, uma brincadeira de gato e rato, suspense e ação...  Junte a isso essa cena do monólogo...  E eu sempre fico com aquela sensação: não se fazem mais filmes como antigamente...


Monólogo de Quint


"Um submarino japonês nos acertou do lado com dois torpedos, Chefe. Estávamos indo da ilha de Tinian para Leyte - tínhamos acabado de entregar a bomba, a bomba de Hiroshima.   Mil e cem homens caíram na água. O navio afundou em 12 minutos. Só vi o primeiro tubarão depois de cerca de meia hora - um tigre - quatro metros. Sabe como você sabe quando está na água, Chefe? Você diz olhando da dorsal até a cauda.



O que não sabíamos era que a nossa missão tinha sido tão secreta que nenhum sinal de socorro havia sido enviado. Eles nem sequer nos listaram como atrasado por uma semana.
Amanheceu e os tubarões continuavam cruzando. Então ficamos bem juntos. Sabe, como naquelas pinturas de calendário da Batalha de Waterloo. A ideia era que quando o tubarão chegasse perto o homem mais próximo começasse a gritar e bater na água. Às vezes o tubarão ia embora. Às vezes não. Às vezes esse tubarão olha bem direto pra você, bem nos seus olhos. Sabe, os olhos de um tubarão são pretos e sem vida como... como os olhos de uma boneca. Quando ele vem pra cima de você esses olhos continuam sem vida até ele começar a te morder, aí eles rolam pra cima e ficam brancos. Você ouve um grito e nem percebe que é você e o oceano fica vermelho e apesar de toda gritaria eles vem te rasgar em pedaços.

 
Sabe, até o final da primeira manhã perdemos uns 100 homens. Eu não sei quantos tubarões haviam, talvez uns 1000. Devíamos perder uns 6 homens por hora. Na quinta-feira de manhã, Chefe, eu esbarrei num amigo meu, Herbie Robinson, de Cleveland. Jogador de baseball. Contramestre. Eu pensei que ele estava dormindo. Estiquei a mão para acordá-lo. Balançava para cima e para baixo na água como um pião meio tombado. Bem, tinham mordido ele pela metade, da cintura para baixo.
Meio-dia do quinto dia, Sr. Hooper, um Lockheed Ventura nos viu. Ele voltou voando baixo e nos viu. Era um piloto jovem, muito mais jovem do que o senhor, Sr. Hooper. De qualquer forma, ele nos viu e pousou na água e três horas mais tarde, um grande e gordo PBY desceu e começou a nos pegar.



Sabe, aquele foi a hora em que fiquei mais assustado... esperando a minha vez. Eu nunca vou colocar um colete salva-vidas de novo.
Então, mil e cem homens entraram na água, trezentos e dezesseis homens saíram e os tubarões levaram o resto.
29 de junho de 1945.
Mas a bomba nós entregamos.

2 comentários:

  1. Cara, valeu mesmo por postar esse monólogo :D ajudou bastante com um personagem de RPG pirate que estou montando, um contador de histórias de terror.

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