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Impelido por alguma motivação obscura, subi
numa fenda ou fissura nesse gigantesco precipício, notando enquanto o
fazia as bocas negras de muitos buracos terríveis estendendo-se de
ambas as partes até as profundezas do platô de pedra. Em vários pontos a
passagem era coberta pelo chocalhar das partes superiores da fissura
estreita; esses lugares sendo excessivamente escuros, e proibindo a
percepção de tais buracos que possam ter existido ali. Em tal espaço
escuro senti consciência de um singular acesso de pânico, como se alguma
sutil e incorpórea emanação do abismo estivesse engolindo meu espírito;
mas a escuridão era grande demais para que eu pudesse perceber a fonte
de meu alarme.
Concluindo, emergi sobre um platô de rocha musgosa e solo pobre, iluminado por um pálido luar que havia substituído o orbe moribundo do dia. Lançando meus olhos ao redor, não vi objeto vivo; mas estava sensível a uma comoção muito peculiar que vinha muito abaixo de mim, entre os sussurrantes vestígios do pântano pestilento que eu havia acabado de abandonar.
Depois de caminhar por uma certa distância,
encontrei os trilhos enferrujados de uma ferrovia de rua, e as placas
comidas de cupins ainda seguravam o trole em boas condições.
Acompanhando esta linha, logo dei com um carro amarelo de vestíbulos de
número 1852 — de um tipo de dois vagões comum entre 1900 e 1910. Não
estava tinindo, mas evidentemente preparado para partir; o trole estando
no fio e o freio aéreo de quando em vez pulsando abaixo do chão. Entrei
a bordo e olhei em vão pelo interruptor de luz — notando, enquanto o
fazia, a ausência de cabineiro, que assim implicavam a ausência do
motorneiro. Então sentei-me num dos bancos cruzados do veículo.
Ouvi um farfalhar na grama esparsa à esquerda, e vi as formas escuras de dois homens caminhando ao luar. Tinham os quepes de uma companhia ferroviária, e não pude duvidar de que fossem o condutor e o motorneiro. Então um deles fungou com presteza singular, e elevou o rosto para uivar para a lua. O outro caiu de quatro para correr na direção do carro. Levantei-me de um salto e corri como louco para fora daquele carro e atravessei intermináveis léguas de platô até que a exaustão me forçou a parar: fazendo isto não porque o condutor tivesse caído de quatro, mas porque o rosto do motorneiro era um simples cone branco com um tentáculo vermelho como sangue na ponta…
Eu estava ciente de que apenas sonhava, mas a própria consciência não me
foi agradável. Desde aquela noite pavorosa, tenho rezado apenas para
despertar: isso não acontece! Ao invés disso eu me encontro com um
habitante deste terrível mundo dos sonhos!
Aquela primeira noite deu
lugar à aurora, e caminhei sem rumo pelos pântanos solitários. Quando a
noite veio, eu ainda caminhava, esperando acordar. Mas subitamente abri
caminho entre os juncos e vi à minha frente o antigo bonde: e, a um
lado, uma coisa com rosto em forma de cone levantava sua cabeça e
uivava estranhamente para o luar que se derramava!
Tem sido a mesma
coisa todo dia. A noite sempre me leva àquele lugar de horror. Tenho
tentado não me mover com a chegada da noite, mas devo andar em meu
sonambulismo, pois sempre acordo com a coisa de terror uivando à minha
frente na pálida luz do luar, e viro-me e fujo como um louco.
Deus!
Quando despertarei?
Foi isso o que Morgan escreveu. Eu iria à Rua
College 66, em Providence, mas tenho medo do que posso encontrar lá.
∗ QUATRO FRAGMENTOS (Azathot, The
Descendent, The Book, The Thing in the Moonlight): estes fragmentos
descobertos entre os papéis de Lovecraft são presumivelmente suas
tentativas de se estabelecer em formas rudimentares, preparando-se para
expansão em histórias mais longas, alguns de seus sonhos. Nenhum deles
jamais foi aumentado. Chaves para as fontes de sonhos destes fragmentos podem ser encontradas em cartas escritas por Lovecraft.
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